Paulo Laureano Estar vivo é uma condição precária com um péssimo prognóstico...

Miséria... mesmo ao lado...

Estava eu a tomar o belo do lanche entrou um puto (vinte e poucos anos é o meu melhor palpite) no café a pedir a alguém que lhe comprasse uma revista "CAIS" ou lhe pagasse qualquer coisa para comer. Quando passou pela minha mesa fiz um sinal de quem não lhe ia dar nada, um senhor umas mesas ao lado anuiu e mandou vir uma empada, que o rapaz agradeceu.

Algo que não sei identificar com precisão, talvez no olhar dele, na expressão de genuíno agradecimento (e comoção) que fez quando agradeceu, na postura física humilde, na forma como se movia, deixou-me profundamente angustiado. Terminei apressadamente o meu café, fui à procura dele com uma sensação de urgência, de quem tem um nó no estômago, e dei-lhe todas as moedas que tinha no bolso quando o encontrei.

Imagens de miséria que me ficam na minha mente, de pessoas iguais a mim, mas a viver o pesadelo de depender da caridade de terceiros para comer. Tenho a certeza que é completamente arbitrário o que nos separa. Eu tive todas as oportunidades e a sorte do meu lado, e vi por uns segundos sentimentos que me são familiares no olhar dele... podia ser eu na mesma situação.

Miséria... Mesmo ao meu lado...