Paulo Laureano Estar vivo é uma condição precária com um péssimo prognóstico...

"Rápido, bom e barato": Escolha dois...


Em 1998 fundei, com um conjunto de amigos, a MrNet (hoje Full IT, a mesma empresa com novo nome e imagem). Já lá vão 17 anos a fazer sistemas de informação para clientes. De sites (FNAC, RTP, SIC, Mediacapital, TAP, SATA, Gulbenkian, CCB, etc) a sistemas de E.R.P. (Digal, O.C.P., Centro Português de Serigrafia, etc) que gerem os recursos da empresa e actividades com clientes e/ou fornecedores, sistemas de facturação.

Alguns sistemas foram relativamente simples de programar, outros particularmente complexos. Mas na relação com os clientes fui aprendendo umas quantas lições que partilho aqui…


"Rápido, bom e barato": Escolha dois...

Quando se está a implementar uma solução feita à medida do cliente (i.e. algo novo e complexo) o cliente precisa de saber escolher dois de três atributos: "Quer uma solução que possa implementar rápido", "Quer uma solução de elevada qualidade", "Quer uma solução barata". Não pode ter as três em simultâneo, pode ter duas delas. Este pressuposto só é quebrado quando se adopta uma solução já desenvolvida para outros clientes.

Isto só não é verdade quando se trata de usar tecnologia já desenvolvida e com poucas alterações…


Compre soluções que já constem do portfólio das empresas…

- A SIC e RTP beneficiaram de anteriormente a Full IT ter desenvolvido tecnologia de CMS para a Mediacapital (Siteseed 1). Depois do primeiro cliente, claro que é muito mais barato reciclar e adaptar tecnologia feita e estável. Conseguiram na altura uma solução muito mais barata, rapidamente e de elevada qualidade, para terem sites de elevada performance. Essa tecnologia ainda hoje faz a página da RTP ( http://www.rtp.pt/homepage/ ), que é instantânea, com mais de 800000 artigos publicados e uma centena de templates diferentes.

Com o passar do tempo, depois de revendida vezes sem conta, a tecnologia passa a ser gratuita (i.e. não ter valor comercial). O siteseed 1 é open source. Não é modificado desde 2004, altura em que foram corrigidos os últimos problemas de segurança (últimos patches), e ficou pela versão 1.6. Houve um fork dele ("startuxcode", feito pelo Mário Gamito, em 2003). Está no Source forge ( http://sourceforge.net/u/plaureano/profile/ ).

- A TAP em 2004/2005 precisou de um sistema de "segunda geração" do Siteseed (a versão 2) que esteve meses a ser desenvolvido de acordo com as necessidades específicas de uma companhia aérea. Com essa tecnologia fez sites institucionais, o Victória, Corporate e de agentes. O Siteseed 2 suportava múltiplas línguas e mercados a partir de um backoffice comum. A SATA e Gulbenkian (em vários sites da instituição) beneficiaram em termos de "velocidade de entrega" de inovações tecnológicas previamente construídas para a TAP. O Siteseed 2 nunca foi "open source", se bem que é entregue a cada cliente com o respectivo código fonte.

- Em 2010/2011 foi desenvolvido o Sitessed 3. A Lusosem e TAP foram os pilares de inovação, com as suas necessidades especificas na altura em que estava a ser desenvolvido (na realidade DEPOIS de ser desenvolvido, porque a Full IT tinha o processo praticamente concluído quando os clientes o começaram a adoptar). Depois dos pioneiros, a tecnologia passou para vários sites da Gulbenkian, CCB, ESOP, Optivisão, INCI, CML, etc. Todos os clientes de "segunda geração" beneficiaram do tempo esperado pelos de primeira geração.


O que é específico e feito à medida sai mais caro, ou demora mais tempo, ou sofre de problemas de qualidade…

Os sistemas de ERP construídos à medida das empresas são quase sempre tão específicos que pouco ou nada do que se faz é transponível para uma segunda geração de clientes, aplica-se sempre a regra do "Escolha dois". Não há excepções. Recorrendo a uma base de software já construído (ou pela empresa ou em open source, ou comprados a terceiros) é possível atalhar caminho, mas quanto maior a carga de desenvolvimentos específicos mais se vai cair nas mesmas regras.


Ah, e tal, ali é mais barato…

 Claro. Há sempre quem aldrabe clientes, há sempre quem prometa coisas (que é mais barato ou melhor, ou que entrega produtos mais depressa). A realidade é que entre as melhores e as piores empresas o que varia é a capacidade de produzir equilibrando preço, qualidade e velocidade de entrega. As más empresas não duram. O tempo encarrega-se de fazer com que se estampem ao comprido depois de irem desiludindo sucessivamente clientes.

O meu cuidado é tentar transmitir a clientes e potenciais clientes que ter pressa sai mais caro ou tem implicações de qualidade. Procurar o equilíbrio certo projecto a projecto á algo muito mais complicado do que o comum dos mortais imagina. São raros, mas muito bons, os clientes que percebem isto. A maior parte acha que foi muito caro, ou que demorou demasiado tempo, ou que falta qualidade à solução apresentada. Não é verdade. As pessoas recebem exactamente o melhor compromisso entre as escolhas que fazem, e ao fim de tantos anos eu certifico-me que esse compromisso é bem entendido. A partir daí são escolhas que as pessoas fazem…