Paulo Laureano Estar vivo é uma condição precária com um péssimo prognóstico...

"Ultimato" - Um livro escrito pelo Rui Moreira


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Podem encontrar o livro (em papel por 11.62&euroWinking em qualquer livraria do país ou em formato electrónico na Wook (9.99&euroWinking.

Depois de uma introdução absolutamente magnética o autor aborda por ordem questões como “austeridade”, “equidade”, “fadiga tributária”, “gorduras do estado”, “Parcerias público-privadas”, “inovar”, “justiça”, “Interesses instalados”, “Portugal e a Europa”, “Reforma do estado políticio”, “crescimento económico” e por fim “como sair da crise”. Um tópico por capitulo. Cada tópico analisado de forma critica, lúcida, pessoal, em linguagem que todos conseguem perceber.

O livro é um bom guia para o português que se encontra afogado pelas circunstâncias, no meio de promessas e apontar de dedos, e que a única coisa que sabe “com toda a certeza” é que a sua vida mudou, e mudou para bastante pior. Se toda gente se informasse minimamente antes de dizer barbaridades seria mais fácil lidar com a crise.

Aprecio a inteligência, bom senso, equilíbrio e honestidade intelectual do Rui Moreira. Só o conhecia como o adepto do Futebol Clube do Porto, qualidade em que participou (e julgo que participa ainda) em programas de televisão. Já nessas incursões televisivas a falar de futebol, e os fenómenos que rodeiam o desporto Rei, o Rui demonstrava qualidades que para mim são relevantes. Através do livro fiquei a conhecer melhor o autor, e foi um prazer…

Recomendo vivamente… O livro é pequeno e num fim de semana vai-se… Happy

Tenho de ir à procura do e-mail do Rui Moreira


Como eu o li e interpretei:




Introdução



Aborda as circunstâncias em que escreveu o livro, quando o fez, e porquê. Não deixa de apontar o dedo à actuação (para ser mais exacto: à ausência de posição e explicações sobre a situação de Portugal) do Presidente da República. À oposição entre as posições do PSD antes e depois de ser eleito. Não deixou de notar que foram eleitos com um manifesto eleitoral e executaram o oposto ao que haviam proposto aos portugueses (todos os motivos porque chumbaram o PEC IV do PS foram directamente para o caixote do lixo assim que formaram governo). Chama a atenção para a natureza “garantista” da nossa constituição. Para o oportunismo e demagogia fácil da nossa extrema esquerda, que reclama acções sem qualquer base de sustentação económica, apenas porque sim, porque é o que acha que as pessoas querem ouvir.

Olha para os portugueses desanimados, traídos, tristes, “encostados ás cordas” e verifica que muitos deles não entendem o que lhes está a acontecer. Nota que é a própria democracia que fica em cheque face à falta de senso e capacidade política dos nossos lideres (no governo e oposição). Recusa-se a aceitar que as pessoas baixem os braços, sejam conduzidas desanimadas sem entenderem o que se está passar. E é explicando e analisando as várias questões que nos convida a com ele abordar os 12 capítulos do livro...


Austeridade



O capitulo aborda as propostas e medidadas de austeridade do governo (a TSU e o posterior “aumento gigantesco de impostos&rdquoWinking. Interpreta, na minha opinião de forma correcta quais eram as ideias. Explica os factores de risco e a “belíssima caldeirada” em que estaremos caso o plano do governo falhe e a economia não cresça.

Eu percebo a análise, concordo, mas acho por demais óbvio que a economia não crescerá no primeiro trimestre de 2013, nem em 2013. O Rui concede o beneficio da duvida ao governo com uma implícita esperança que “funcione”, mesmo achando que muitas das medidas pecam por tardias, que houve disparates e falta de senso a lidar com a questão da TSU, que existem riscos relacionados com o tribunal constitucional que são relevantes (e na minha opinião “infelizmente certos&rdquoWinking.

Eu estou a ler o texto com um intervalo de tempo desde que foi originalmente escrito que é relevante… obviamente que é mais simples fazer futurologia de curto que de médio prazo. Mas fazendo um esforço para me lembrar do que eu pensava sobre o assunto na altura em que o Rui escreveu o livro, entendo a visão dele e prognóstico que faz.

Parte deste capitulo não resistirá ao tempo. Fará mais sentido na altura em que foi escrito que no futuro próximo. Mas a descrição de eventos passados e medidas tomadas é intemporal, e a analise desses eventos é interessante e documentará para o futuro o cepticismo dos portugueses em geral e do autor em particular.

Só tenho pena que o autor não tenha referido o significado da palavra, porque austeridade não significa “um governo a lançar impostos insanos sobre os contribuintes”, que é ao que os portugueses associam a palavra nos dias que correm. Significa “Qualidade ou característica do que é austero. = RIGOR, SEVERIDADE”, algo que nunca deveria faltar aos políticos. Quando vejo as pessoas a reclamar o fim da austeridade não tenho a certeza que as pessoas saibam o que a palavra significa.


Equidade



Uma visão inteligente e racional sobre a realidade. A forma como o tribunal constitucional (e o Presidente da República) com uma visão distorcida da sociedade contribuem para o agravar da crise. Na realidade o que fazem é uma interpretação “sui generis” do conceito de “equidade”, mantendo privilégios da função publica face aos priovados, impedindo o estado se adaptar à realidade (em termos de volume de dinheiro que gasta e a forma como protege os seus quadros). Nota que a óbvia discrepância entre a forma como empresas privadas e se comportam, e protecção laboral de que os trabalhadores do privado gozam, e a realidade de trabalhadores do estado e empresas públicas.

Brilhante e objectivo, infelizmente a descrever uma realidade não é nada agradável…



Fadiga tributária



Esgotou-se a capacidade de cobrar impostos e o Rui sugere que talvez esteja na altura de parar com os sucessivos disparates a que o governo nos tem sujeitado e, eventualmente, passe a gastar o dinheiro que arrecada e não mais que isso. Se isso significa que temos de viver com menos saúde, menos prisões, menos segurança, menos tudo… seja… mas o governo tem que parar de gastar dinheiro que não tem, e parar de viver a crédito. Ultrapassada a capacidade de pagar impostos dos portugueses, manter esta asfixia fiscal cria uma série de problemas adicionais não resolvendo nenhum dos que motivaram a subida de impostos. Não podia estar mais de acordo.


Gorduras do estado



O que raio são as “gorduras”? Quais as funções do estado “fundamentais”, como o estado Português falha nas mesmas, quais as funções acessórias em que se gasta uma percentagem assustadora do dinheiro. Como os portugueses parecem incapazes de distinguir entre o fundamental e o acessório no que toca às funções do estado. Uma viagem pela saloiada de opiniões cretinas que a sabedoria popular é tão boa a criar. O Rui até é particularmente “simpático” na sua visão… mas não perde o “norte” ao que é a realidade.

O problema não é o nosso estado se arrogar a gerir matérias que não lhe competem, é os portugueses terem uma visão absolutamente distorcida da realidade, e esperarem do estado que os eduque, lhes trate da saúde e faça uma “gestão coerciva” da “sua solidariedade para com os seus compatriotas menos afortunados”. Isto é uma barbaridade, o que os portugueses querem do estado, mas que não estão dispostos ou são capazes de pagar.



As parcerias público-privadas



Sem papas na língua, é a descrição da vergonha imoral que são algumas parcerias público-privadas (e respectivos números). Como os nossos políticos não são presos é um verdadeiro milagre da corrupção, compadrio e ineficácia do nosso sistema judicial (sabem, uma das tais funções do estado que não são acessórias, e que são mesmo importantes para uma sociedade funcionar, leiam o capitulo anterior). A incapacidade destes negócios serem anulados, estas pessoas presas, é… difícil de classificar.


Inovar



A inovação e potencial para Portugal… talvez o capitulo do livro que achei menos interessante…


Justiça



Uma justiça de terceiro mundo a preços de primeiro mundo. Lenta, ineficaz e pouco credível. Em suma, o nosso estado tão interveniente em tantas áreas (em que não devia de todo intervir), legisla demais, cria um nó cego de que toda a estrutura judicial é incapaz de se libertar, falhando estrondosamente numa das suas missões fundamentais. Uma vergonha. Um problema que afecta a nossa liberdade, a nossa capacidade de cobrar, de fazer respeitar contratos. Uma das causas do triste estado em que nos encontramos.


Interesses instalados



Corrupção, maus políticos, falta de honestidade e seriedade.


Portugal e a Europa



Estar na união europeia significa ter uma margem de manobra limitada. A forma como entrámos na união e como gerimos ao longo dos anos a nossa economia não foi certamente adequada… explicado em sete páginas de texto. Sabe a pouco, mas é muito mais do que a maior parte das pessoas quererá saber. Tendo a achar que o Rui teve isso em conta ao escrever este capitulo…


Reforma do sistema político



Porque a nossa jovem democracia nos parece tão gasta? Bom, em parte porque o PS e PSD são fundamentalmente máquinas de alimentar o estado, de o engordar, de retirar às pessoas dinheiro e depois fazer investimentos “públicos” com ele. A critica directa ao sistema partidário e a referência ao “Yes, Minister” só pode cair bem no que a mim diz respeito.


Crescimento económico



Virtudes e defeitos do investimento, público e privado, e respectivas consequências. Retrato do país actual e avaliação do que pode acontecer (de bom e mau) no curto prazo. Arrisca pouco o autor, eu percebo. Também tenho a fé/esperança pouco sustentada e complicada de manter, a racionalidade é uma cabra, que pode haver algum milagre e o plano do governo resultar em algo positivo. Mas infelizmente para os dois estamos a ver a mesma coisa.


Como sair da crise



Reformas ao sistema eleitoral, parlamento e poderes da presidência da república. Em suma credibilizar de novo a democracia.

Mudar a constituição para algo mais apropriado à realidade. Mudar as funções do estado para aquilo em que os estados são fundamentais e imprescindíveis (leia-se retirar a utopia socialista da constituição e a mão do estado de tudo o que não são as suas funções primordiais). Parar de delegar ao estado o “paternalismo” e gestão de uma “rede de segurança” utópica que é absolutamente óbvio que é incapaz de manter ao fim de uma geração de contribuintes…