Paulo Laureano Estar vivo é uma condição precária com um péssimo prognóstico...

Route 66 / Coast to coast


Regressei de férias. Foram 18 dias nos estados unidos a passear de mota. O “jet leg” ainda teima em não passar mas as memórias ainda frescas da viagem compensam largamente.

As impressões da viagem são muito positivas. Os americanos são de uma simpatia, informalidade e educação a todos os níveis excepcionais. Conheci “duas américas”, a cosmopolita (Chicago, Vegas e San Francisco) e a rural (pequenas cidades, motéis e restaurantes de estrada), e decididamente viveria em qualquer uma das duas. Gostei mais de Chicago que de San Francisco. Las Vegas é fascinante pelo exagero, um convite a todos os devaneios e fugas da realidade, impressionante e grandioso.

Tive wifi de borla em todo o lado, do mais barato dos motéis aos restaurantes de estrada, foram muito poucos os dias e horas em que tive alguma dificuldade em ver o mail e enviar fotografias para a família. Curiosamente nos motéis baratos o “free wifi” está quase sempre presente, já nos motéis/hoteis mais carotes é um serviço pago. O GSM/3G é outra conversa e fora das cidades é uma raridade. De qualquer forma estava de férias e a ideia era mesmo não ter telefone ligado... e a diferença de 6/7/8 horas para Portugal tornava pouco prático ter o telefone ligado durante a noite e receber chamadas.



As Harleys (Electra Glyde) são uns monos horrendos, excepções feitas ao sistema de som e ao conforto do banco, não me deixam saudades. Aquecem desalmadamente, vibram mais que um tremor de terra, fazem barulho a mais e andam a menos, são pesadas, a posição das pernas é um alucinação... Sempre que apanhei trânsito, e em particular em Las Vegas, queimava-me (literalmente) no motor (exposto) da mota. Nem sei quanto pesava, mas era pesada. Em matéria de duas rodas os americanos estão há uns anos parados no tempo.

Grandes preços! Mesmo que o dólar estivesse a par do euro, que felizmente não foi o caso (um dólar corresponde a 0.7 euro na altura em que paguei a viagem), continuaria a ser barato, como as coisas estão é um convite aos pequenos excessos...



Casei em Las Vegas. Ao fim de 13 anos de namoro está dado o nó. Agora temos que tratar da transcrição do casamento em Portugal (como acontece com qualquer casamento que ocorra fora de Portugal) que é uma chatice inevitável. Demorou menos de hora e meia a obter a licença e casar no estado do Nevada... Os padrinhos e testemunhas foram os nossos companheiros de viagem.



Foi uma viagem inesquecível que recomendo vivamente a todos. A América é mais e muito melhor que a imagem que transmite para o exterior, de uma super-potência descontrolada e agressiva, com um mau líder e um sério problema de relações publicas. As pessoas que lá vivem mereciam muito mais, e muito melhor. De bom grado voltarei aos estados unidos. Já tenho saudades da forma como fui recebido.

Espero que o Obama ganhe as eleições, coloque um travão aos disparates bélicos, e que a América possa “voltar a liderar o mundo pela força do exemplo e não pelo exemplo da força”... e se há muito por fazer!

Uma nota final triste. O sonho americano não é para todos. Vi muitos pedintes, pessoas absolutamente miseráveis, o “outro lado” do sonho americano. A grandeza de uma nação mede-se também pela forma como lida com este tipo de problemas. Triste e comovente. E basta olhar para qualquer rua da baixa de São Francisco para se perceber que há ali um problema complicado. Percebo o culto dos vencedores, mas é preciso também alguma compaixão pelos vencidos, passarem fome e dormirem à porta de lojas de luxo é contraste a mais para os meus olhos.