Paulo Laureano Estar vivo é uma condição precária com um péssimo prognóstico...

Informática 101: Pare, pense e faça um reboot


Contexto histórico



A informática é uma jovem industria milionária. Profundamente desequilibrada entre a protecção dos consumidores e de fabricantes. Este texto é uma necessária introdução à história da informática e ao mundo em que vivemos. Leiam, vejam os filmes (duas horas) e documentários (três horas), liguem o cérebro e respirem fundo… seguem-se mais dois textos na serie “Informática 101” com a minha abordagem aos problemas e respectivas soluções.

É uma industria que está em grande parte por regulamentar, é durante os primeiros anos a “lei da selva” como todas as novas industrias, em que os fabricantes de software (i.e. programas informáticos) declinam toda a responsabilidade por qualquer erro funcional ou de segurança. Não há qualquer tipo de garantia para o utilizador, nem que o programa faz sequer que é “descrito na embalagem”, corresponde às características anunciadas ou é de facto seguro/estável.

Por ser uma industria “milionária” tem a capacidade de comprar e influenciar políticos, pelo que “copiar ilegalmente software” é na maior parte dos países um crime punível com pena de prisão. O objectivo da industria (normal e expectável) é fazer tanto dinheiro quanto possível.

Quando uma industria (pensem por exemplo na industria automóvel ou farmacêutica) é regulamentada e forçada a “garantir” níveis de desempenho e segurança isso implica informar de forma mais rigorosa o consumidor, responder judicialmente por erros, mentiras e omissões. Custa dinheiro. Na informática estamos longe de isso acontecer. É claro que se a indústria da informática pode escapar ao escrutínio de testes de qualidade e segurança, obrigatórios e a sério, ao contrário das industrias farmacêutica ou automóvel que para colocarem produtos no mercado precisam de os testar, e passar pelo escrutínio de vários testes e entidades reguladoras… obviamente que declina essa responsabilidade e faz antes “mais dinheiro”... ficam os testes para “os clientes”, e até podem vender as soluções para os problemas encontrados mais tarde.

Por ser assim é que temos versões “beta” (i.e. que é suposto significar que está por ser testar antes de ser lançada a versão “final&rdquoWinking, com mais ou menos erros e defeitos, vendidas no mercado de forma impune. A Apple até se dá ao luxo de indicar a real “maturidade” e “falta de testes” de alguns produtos e tecnologias: o “Siri” do “iPhone 4S” (que é o principal argumento de venda e estrela dos anúncios!) que estará em “beta” provavelmente até o telefone ser substituído pela versão seguinte (iPhone 5?)… Na Apple até já se transformou em tradição; “iWork.com” (“beta” até ser descontinuado!), “Face Time” para o Mac, etc. Os fabricantes fazem isto porque podem. Se a industria farmacêutica tivesse a mesma liberdade também teríamos muitos (mais) medicamente “em beta”, os carros matariam muito mais do que matam, etc.

Os fabricantes de hardware não tiveram a mesma sorte… e há garantias a prestar aos consumidores. Mas mas no software “vale tudo”. É a lei do ouro (quem tem o ouro faz as leis). Cabe às empresas e particulares depois de entenderem o contexto histórico agirem em função disso. É por isso necessário agir de forma inteligente e exercer cautela.



Os melhores vilões de sempre, e o fascínio que provocam...


Não é linear para a maior parte das pessoas perceber todas as perversões do mundo em que vivem, em particular no que respeita à informática. A IBM, Microsoft, Apple e Google, são empresas formidáveis. Empregam pessoas absolutamente geniais e verdadeiros fora de série. Não são é propriamente “anjinhos”, nem todos os quadros são “programadores” e há brilhantes “evangelistas”, comerciais e estrategas com uma agenda óbvia (e legitima!) que todos entendem: maximizar lucros! Se o mercado não é regulamentado, se podem proteger os seus interesses e conseguir legislação que lhes é favorável, e podem assim obter mais lucros, tanto melhor, e é isso que fazem. É aproveitar ao máximo o momento. E se aproveitam… Usam a sua força, jogam o seu jogo, e ainda conseguem escrever as regras do mesmo a seu favor. Excelente contexto histórico para construir as maiores fortunas do planeta. Não os levem a mal, a industria automóvel, de exploração de combustíveis fosseis e farmacêuticas fizeram o mesmo.

Os vencedores escrevem a história, e quando falamos em história recente, tudo acontece a uma velocidade que torna mais complicado criar um distanciamento que permita observar os factos. Estas mega-empresas são no contexto deste texto os “maus da fita”…

Serem os “maus da fita”, não impede o mundo de os ver com um fascínio quase hipnótico. Aqui os lideres de cada “gang” são extraordinários. Vencedores natos. Lutam entre si furiosamente. Há um seguimento quase religioso pelas várias empresas. O publico que exploram (e se exploram!) não só compra o software como ainda “veste a camisola”. Aplaude cada lançamento, vibra com os resultados das vendas, defende publicamente com alma e coração a sua “religião informática”.


gatesborg
A Microsoft custa milhões a estados, empresas e particulares, vendendo os mesmos produtos reciclados vezes sem conta.

Durante anos colocou a sua estratégia no terreno com “requintes de malvadez” absolutamente fantásticos, dignos dos piores vilões de qualquer série. Incompatibilidade entre formatos proprietários, tecnologias e protocolos que tornavam impraticável utilizar produtos concorrentes, etc. Minou (e mina) universidades e currículos escolares, com as suas tecnologias, em paralelo distribui certificados de “Microsoft certified Engineer”. Não fosse a Internet a minorar estragos (revelando problemas graves de segurança e alternativas) e hoje o estaríamos todos a falar “Microsoftês” e perfeitamente assimilados.

Os produtos da Microsoft serem em tantos casos medíocres, inseguros, pouco fiáveis e perfeitamente substituíveis com vantagens óbvias por alternativas (livres e pagas) não impediu o estrondoso sucesso da empresa. Muito desse sucesso alicerçado numa fantástica máquina comercial, a suprema inteligência e sentido estratégico com que lidaram com a IBM e Apple (no primeiro reinado do rei Steve Jobs e nos anos em que esteve ausente).

O melhor para perceberem a história é verem o filme “Pirates of Silicon Valley” (link para filme completo no Youtube!). Ou se preferirem documentários vejam o excelente “Triumph of the nerds”:







O Google que é o actual “menino bonito da industria” faz-se passar por campeão do bem na luta contra patentes e software livre e aberto, no entanto é um negócio construído com base em patentes, o motor de pesquisa é um segredo bem guardado (e longe de ser software aberto ou livre), idem para o código do gmail, adwords, adsense, etc. A forma como descaradamente copia projectos concorrentes, e usa o musculo proporcionado pelo poder do seu motor de pesquisa para os “promover” e “integrar” (aquela “barrinha de topo” que integra tudo) é tudo menos inocente ou resultado de ingenuidade. A forma como literalmente se apropriou do Java (RIP!) e Linux para fazer o Android é absolutamente fascinante.



“Os sete magnificos” - Precisamos de heróis tão bons como os vilões...



Em 1960 o filme “Os sete magnificos” (baseado no fabuloso “Sete samurais&rdquoWinking mostrou ao mundo a história de uma aldeia aterrorizada por bandidos, que contratou sete pistoleiros para lutar por eles. Estes sete “heróis” são na realidade anti-heróis, com diferentes origens e histórias, que o destino e circunstâncias uniu para salvar a aldeia.

Os “magníficos” no “mundo real” são programadores e administradores de sistemas que nos ajudam e lidar com os vários “gangs” de “mauzões” já apresentados. É possível conviver com a informática de forma inteligente, beneficiando do que de melhor existe, aplicando racionalidade e bom senso. Ao contrário dos filmes, aqui os vilões são também fornecedores de excelentes tecnologias, que podem e devem ser usadas. Cada empresa precisa dos seus “heróis magníficos”, que defendam os seus interesses pelo menos tão bem como os nossos “simpáticos vilões” defendem os deles, e é aqui que “a porca torce o rabo”…

Há infelizmente muito poucas pessoas inteligentes, com conhecimento de informática, imparcialidade e racionalidade, para ajudarem estados, empresas e particulares. Não chegam para todos as que existem. Sorte de quem tem a lucidez de os contratar. Porque é uma corrida contra o tempo. A maior parte dos técnicos capazes são recrutados pelas empresas de informática. Quanto mais não seja para jogarem na equipas deles, de acordo com as respectivas agendas. Mas há excepções. E encontrarem essas excepções é uma revelação, e um tremendo negócio, para quem o faz.

Tal como no filme “Os sete magníficos” os pistoleiros que não tenham sido recrutados pelos “gangs” são a melhor abordagem disponível para lidar com o mundo em que vivemos. E até os conhecem ou ouviram falar deles! São os “hackers”, os não alinhados, os anti-heróis. Os textos seguintes (da série “Informática 101&rdquoWinking não são o culto destes personagens (com que eu me identifico) mas sim a descrição do que podem fazer por si… ou se preferirem a minha visão pessoal do que deve ser feito por si, pela sua empresa, pelo país em que vive.

Segunda parte: A armadilha montada para marcar território