Paulo Laureano Estar vivo é uma condição precária com um péssimo prognóstico...

Socialismo e liberdade


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O conceito de socialismo (prevalência dos interesses do grupo sobre os interesses individuais) soa aparentemente bem à maioria das pessoas. Não soa nada bem a mim, que sou individualista, e entendo que a liberdade individual é o valor mais importante que existe numa sociedade. Entendo que a missão primordial de qualquer governo deve ser salvaguardar essa liberdade.

Faz-me impressão quando o estado resolve limitar a minha liberdade, proibindo-me de fazer coisas que só a mim dizem respeito (andar de mota sem capacete) ou "taxando o que entendem que é mau para mim" (beber álcool ou consumir drogas na privacidade do meu lar sem afectar terceiros). Os estados assumirem uma postura paternalista, tratando as pessoas como atrasados mentais ou criancinhas que precisam de orientação, é insultuoso. Se os estados entendem que quem "anda de mota sem capacete" ou "abusa de determinadas substâncias" não pode onerar os serviços estatais de saúde, muito bem, não trate essas pessoas (elas que apostem em seguros de saúde privados que cubram esses riscos, ou que os assumam, se lhes correr mal o problema é delas). O que não deve é interferir na liberdade das pessoas de tomarem as suas decisões e arcarem com as consequências das mesmas. Liberdade implica isso mesmo: lidar com as consequências das acções que resolver tomar.

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O mesmo se passa com a "segurança social". Se as pessoas não juntam um "pé de meia" para usarem um dia mais tarde, quando forem mais velhos, ou se não tiverem emprego, ou para lidarem com doenças, isso é uma opção delas. Ou melhor deveria ser. A opção que tomam terá consequências e as pessoas devem ser livres de as tomarem. O grande problema é que a nossa liberdade foi revogada, em nome de um "bem comum", porque muita gente não geria bem o seu futuro. E os socialistas, na sua infinita sabedoria, resolveram solucionar o problema com um esquema de pirâmide clássico e obrigatório para todos.

A forma de lidar com o problema dos estados modernos é literalmente tirar o dinheiro às pessoas, supostamente é uma poupança compulsiva e gerida pelo estado. É uma burla. Só é "sustentável" quando a base de contribuintes é maior que a base de beneficiários, porque todo o dinheiro taxado é usado imediatamente para "tapar as despesas correntes" dos actuais beneficiários. As contribuições que são descontadas a cada pessoa não existem para beneficiar o contribuinte "forçado", existem para pagar as despesas de quem está actualmente a beneficiar do esquema. Em Portugal, com a diminuição da base contributiva e aumento da expectativa de vida, o esquema vai obviamente deixar de ser "viável". A única coisa que diferencia um esquema de "pirâmide" ilegal de um legalizado, e perpetuado por um estado, é as pessoas não poderem "sair" e não terem a opção de "não entrar" (i.e. fazerem a gestão das suas próprias poupanças, ou apostarem em seguros de reforma privados, ou em investimentos de longo prazo). Mas nem assim o dito é viável, porque as "saídas" de investidores fazem-se por via da demografia e do aumento das expectativas de mais pessoas viverem mais tempo.

O drama destes estados paternalistas é assumirem que limitando a liberdade das pessoas vão obter melhores resultados. Que não é verdade em muitos casos, como na gigantesca mentira (golpada) que é a segurança social; literalmente um assalto entre gerações. E eu entendo que a qualidade dos resultados nem sequer é a questão, a liberdade das pessoas tem que ser mais importante, que qualquer promessa de um colectivo. As pessoas são livres de usando a sua liberdade se associarem e se protegerem de forma solidária, constituindo seguros de saúde ou de reforma, por exemplo. Mas sem a força de um estado a tornar a adesão a esses colectivos compulsória. É nesse detalhe, de não ter a escolha de aderir, que a nossa liberdade vai pela janela, e somos engolidos pelo colectivo, que se arroga a achar que sabe melhor que o individuo o que é melhor para ele.

Liberdade que não entendem nem merecem


Para todos "os Charlies" verem com atenção. Assumindo que ainda dizem ser "Charlies" e que já não lhes passou.




A ideia de que a "liberdade de expressão" deve de alguma forma ser "limitada" pela "liberdade religiosa" (podem dizer o que quiserem desde que eu não sinta que estão a ofender os meus deuses ou profetas/anjinhos imaginários) é o disparate a partir do qual estão abertas as portas para uma teocracia. O tópico é complicado porque se repararem na definição da wikipedia - https://en.wikipedia.org/wiki/Freedom_of_speech - a ideia de base é "podem dizer o que pensam mas"… em alguns estados esse direito está limitado a coisas que não ofendam ninguém (que não é liberdade nenhuma, porque a sensibilidade de quem escuta pode ser obviamente mais ou menos apurada, e qualquer coisa é passível de ofender alguém, algures). Algures na nossa sociedade "moderna" e "democrática", passou a ser ilegal dizer algumas barbaridades previamente seleccionadas para si, e coisas completamente idiotas que alguém convencionou que passavam um limite qualquer.

Pessoalmente acho que não, que as pessoas devem poder dizer o que quiserem, e pagar o preço do exercício da sua liberdade (seja em tribunais ou na praça publica), bem como lidar com o resto da sociedade lhes poder responder à letra. Quem não se aguenta "à bomboca" de viver numa sociedade livre, tem imensas menos livres para onde pode imigrar e que são verdadeiros paraísos para quem aprecia "moderadores de liberdades excessivas" (assim de repente o ISIS está a aceitar imigrantes em barda para o seu novo estado islâmico, e lá zelam muito por limitar o que as pessoas podem dizer, e são muito rápidos a julgar e condenar quem diz coisas que não deve, um paraíso da limitação da liberdade de expressão, para quem gosta desse modelo - inclui crucificações, decapitação e fuzilamentos na praça pública, com entrada gratuita, entre outras manifestações de implementação de disciplina para esses libertários que precisam de uma lição).

O problema de cobardes abdicarem de liberdade é não a merecerem de todo. É tudo o que uma religião precisa para impor os seus pressupostos a terceiros, aos não crentes, ou crentes em outro disparate qualquer.

Os liberais, comentadores politicamente correctos, que explicam que estes atentados não são uma questão religiosa, não devem ser identificados como tal, estão a ser intelectualmente desonestos. E francamente isso é tão repugnante como as atrocidades do ISIS, precisamente por ser o motor da "tolerância" que permite que aconteçam. É o assobiar para o lado, e fazer de conta que esse é um problema diferente...

Quando vejo o Papa Francisco a defender que as pessoas se devem "moderar" com o que desenham... Não estejam a ofender as alucinações de alguém, estou ver o outro lado da mesmíssima moeda. Os católicos nos últimos séculos são os "moderados", há uns séculos atrás eram os extremistas.

Tudo em nome da ideia que há uns deuses/profetas/anjinhos/diabos "a sério" e outros "que não existem". E é suposto as pessoas exercerem uma "auto-censura" para não ofenderem os deuses/profetas/ankinhos/diabos "verdadeiros" que outros inventam e adoram.

Há pessoas a ser mortas, por fazerem humor e desenhar bonecos que outras pessoas acreditam ser deuses e profetas, imaginem por uns segundos qyue qualquer personagem de banda desenhada ode ser o deus ou profeta de alguém. Que qualquer político caricaturado pode ser o "querido líder" de um anormal qualquer. E que é suposto respeitar todos os maluquinhos, e que isso se deve sobrepor à vossa liberdade.