Paulo Laureano Estar vivo é uma condição precária com um péssimo prognóstico...

Défices


Um estado não deve ter défices, como uma empresa não deve ter défices, como uma família não deve ter défices. Não devem gastar acima dos seus rendimentos. Se querem gastar mais dinheiro precisam de arranjar mais rendimentos, ou recorrer às reservas que acumularam, se o fizeram.

Existem razões excepcionais para que existam défices temporários e legítimos para estados (guerras, catástrofes naturas, epidemias), empresas (calotes de clientes, mudanças súbitas e temporárias de condições de mercado), famílias (emergências médicas). Antes que algum artista venha enumerar mais razões legitimas: os exemplos dentro dos parêntesis não é suposto serem a lista exaustiva.

Pedir dinheiro emprestado não é nenhum pecado capital, e pode fazer todo o sentido em vários cenários, mas significa um risco, e um esforço maior que o de acumular o mesmo dinheiro primeiro e gastar depois (i.e. paga-se o dinheiro mais os juros, em troca não tem de se esperar o tempo de acumular o capital em falta). Pedir dinheiro emprestado para seja o que for, que não implique um retorno "maior que o custo do empréstimo em juros", significa obviamente diferir um esforço "maior e implícito" para obter determinado resultado.

Fazer poupanças (ou seja o oposto de ter um défice) implica que se está melhor equipado para lidar com emergências e que se tem reservas para lidar com imprevistos pagando défices extemporâneos com reservas previamente acumuladas, em vez de recorrer a dinheiro emprestado. Diz o mais elementar bom senso que estados, empresas e famílias, precisam de por norma gastar menos que o dinheiro disponível para poderem ter essas reservas.

Porque alguém, ou outros todos, fazem o disparate de atropelar os mais elementares princípios do bom senso isso não quer dizer que se deva fazer a mesma coisa. Porque alguém pede dinheiro emprestado, aposta e ganha, conseguindo resultados excelentes, não quer dizer que todos os que pedem dinheiro emprestado façam investimentos igualmente bem sucedidos. Nem quer dizer que a mesma receita exacta possa ser aplicada várias vezes e resulte sempre (era bom, mas não é assim).

Vários idiotas em estados, empresas e famílias, fizeram o oposto. Por todo o mundo. Isso não faz com que os parágrafos anteriores estejam errados. Nem faz com que as empresas de cartões de crédito, bancos e investidores diversos em obrigações dos estados sejam "demónios". O problema fundamental é as pessoas (à frente de estados, empresas e famílias) tomarem más decisões e seguirem maus exemplos (provavelmente isolando os casos em que viram coisas resultar bem, pessoas/empresas/estados que pediram dinheiro emprestado, fizeram bons negócios e usaram-no como alavanca para criar uma realidade mais favorável e menos penosa, e assumindo erradamente que vai resultar da mesma forma para todos). Porque toda a gente faz não significa que não seja um disparate imprudente isento de risco. Porque funcionou para "A", não significa que funcione para as restantes letras do alfabeto.

Sou indiferente a empresas falharem, talvez por ser empresário, por saber que o risco de isso acontecer é inerente à existência de empresas, porque faz parte do risco que aceitei quando fiz a minha empresa. São decisões minhas, e dos meus sócios, que ditam o destino e não tenho alternativa que não seja tomar as melhores decisões que consiga e aceitar as consequências (sejam elas boas ou más).

Ver os sustentáculos de unidades familiares tomarem más decisões é um drama. Mais não posso fazer que ajudar quem me é próximo. Mas tenho dificuldade em perceber como é que gastar sistematicamente mais do que se ganha (viver a crédito) pode na cabeça de alguém "correr bem". A alienação entre o acto de gastar/aceitar dinheiro emprestado e a percepção exacta do esforço para pagar esse crédito não faz sentido. De alguma forma as pessoas conseguem ver os benefícios de "ter já" com muita facilidade e não ver o esforço futuro necessário para pagar a conta. Irracional e não, não é "ser humano", é ser burro. São coisas diferentes que não quero que sejam sinónimos.

Ver estados endividarem gerações gratuitamente e de forma leviana é repugnante. Há motivos para o fazer (guerras, catástrofes naturais, epidemias, etc) mas o bem-estar e ganância temporários e de curto prazo dos políticos, e quem os elege, não são uma delas. Se há regra constitucional que deveria existir é a limitação do endividamento de médio e longo prazo. Os vossos filhos e netos merecem não estar limitados pelos progenitores burros que tiveram.

Usar como desculpa que "os outros" também fizeram não fica bem a idiotas adultos com argumentos e comportamentos de crianças irresponsáveis. Estamos a ter o comportamento de burros apaixonados por utopias. Há consequências de longo prazo. Quem tem filhos/netos devia pensar um bocadinho no legado que lhes está a deixar.

"Segredos da maçonaria portuguesa" - António José Vilela


Leiam e nunca mais vão olhar para a democracia da mesma forma... tão absurdamente chocante, tão mais simples de perceber os partidos políticos, as PPP, os Relvas e Isaltinos... entre "irmãos" e "primos" é uma viajem alucinante sobre as sombras dos governos, ou os governos sombra, aos olhos de um jornalista da "sábado" que andou 10 anos a investigar. Brilhante!

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Equidade fiscal


Era uma vez dez amigos que se reuniam todos os dias numa cervejaria para beber e a factura era sempre de 100 euros. Solidários, e aplicando a teoria da equidade fiscal, resolveram o seguinte:

- os quatro amigos mais pobres não pagariam nada;

- o quinto pagaria 1 euro;

- o sexto pagaria 3;
- o sétimo pagaria 7;
- o oitavo pagaria 12;
- o nono pagaria 18;
- e o décimo, o mais rico, pagaria 59 euros.

Satisfeitos, continuaram a juntar-se e a beber, até ao dia em que o dono da cervejaria, atendendo à fidelidade dos clientes, resolveu fazer-lhes um desconto de 20 euros, reduzindo assim a factura para 80 euros.

Como dividir os 20 euros por todos?

Decidiram então continuar com a teoria da equidade fiscal, dividindo os 20 euros igualmente pelos 6 que pagavam, cabendo 3,33 euros a cada um. Depressa verificaram que o quinto e sexto amigos ainda receberia para beber.

Gerada alguma discussão, o dono da cervejaria propôs a seguinte modalidade que começou por ser aceite:
- os cinco amigos mais pobres não pagariam nada;
- o sexto pagaria 2 euros, em vez de 3, poupança de 33%;
- o sétimo pagaria 5, em vez de 7, poupança de 28%;
- o oitavo pagaria 9, em vez de 12, poupança de 25%;
- o nono pagaria 15 euros, em vez de 18.
- o décimo, o mais rico, pagaria 49 euros, em vez de 59 euros, poupança de16%.
Cada um dos seis ficava melhor do que antes e continuaram a beber.

No entanto, à saída da cervejaria, começaram a comparar as poupanças.
-Eu apenas poupei 1 euro, disse o sexto amigo, enquanto tu, apontando para o décimo, poupaste 10!... Não é justo que tenhas poupado 10 vezes mais...
- E eu apenas poupei 2 euros, disse o sétimo amigo, enquanto tu, apontando para o décimo, poupaste 10!...Não é justo que tenhas poupado 5 vezes mais!...

E os 9 em uníssono gritaram que praticamente nada pouparam com o desconto do dono da cervejaria.

"Deixámo-nos explorar pelo sistema e o sistema explora os pobres", disseram. E rodearam o amigo rico e maltrataram-no por os explorar.

No dia seguinte, o ex-amigo rico "emigrou" para outra cervejaria e não compareceu, deixando os nove amigos a beber a dose do costume.
Mas quando chegou a altura do pagamento, verificaram que só tinham 31euros, que não dava sequer para pagar metade da factura!...
Aí está o sistema de impostos e a equidade fiscal.
Os que pagam taxas mais elevadas fartam-se e vão começar a beber noutra cervejaria, noutro país, onde a atmosfera seja mais amigável!..."

[David R. Kamerschen, Ph.D. -Professor of Economics, University of Georgia]

Este nosso Portugal


No Facebook esta semana escrevi em comentários a posts de amigos algumas coisas. Não quero deixar de passar para aqui algumas das ideias centrais…


Futebol e politicos



Um amigo meu colocou na sua “wall” esta imagem:

Pasted Graphic

A que eu respondi que tal não é nem possível nem expectável. Ninguém pede excelência a pessoas que sabemos que são medíocres, como é o caso da esmagadora maioria dos nossos políticos. Deles esperamos mais mediocridade. Pelo contrário o Ronaldo sabemos que é muito bom na sua profissão, e por isso mesmo queremos que se supere, seja o melhor do mundo...


Politicos de carreira e as juventudes partidárias



Os lideres do PS e PSD cresceram nas juventudes “socialista” e “social democrata”. Cresceram e prosperaram (chegando a liderança) nesse mar de mediocridade, troca e favores, por oposição a serem pessoas que no mercado de trabalho demonstraram o seu valor criando empresas e riqueza.

Para quem não percebe, as juventudes partidárias, tal como a “mocidade portuguesa” ou a “juventude hitleriana”, não servem para rigorosamente nada excepto doutrinar determinados valores em miúdos. A ideia, para além de colarem cartazes e fazer numero em manifestações, é que venerem determinados valores e personalidades. No caso dos nossos partidos actuais; uma sociedade democrática com pilares socialistas.

O problema é se queremos líderes para a nossa sociedade que sejam “verdadeiros crentes” ou pessoas com provas dadas em áreas como economia, gestão, direito, etc. Eu aceito um papel de pessoas saídas destas organizações nos partidos e organizações, desde que mostrem na sociedade em que se inserem o seu valor (i.e. não se trata de picar o ponto, mas conquistar a admiração dos seus pares de profissão, por oposição a “colegas” de partido) trabalhando fora do âmbito “político”. Crescerem nestas organizações “per si” não é nenhum defeito mas chegarem ao poder “sem mais” é uma distorção da realidade.

O problema numa sociedade em que existe uma classe dirigente (i.e. dominada pelas organizações partidárias), é que isso torna complicado aos melhores lideres e profissionais que temos, que não estejam integrados no meio político, poderem prestar à nação o inestimável serviço de nos servir. Gostava de poder votar numa “Sonae ou Jerónimo Martins” (salvo seja, nos seus melhores lideres e técnicos nas mais diversas áreas), para nos governar. Votar no líder dos coladores de cartazes e cheerleaders das “juventudes partidárias” para primeiro ministro é um disparate óbvio.


Uma oportunidade única para atenuar 30+ anos de disparates desperdiçada...



Em Portugal passou-se algo extraordinário em que ninguém parece ter reparado: votámos um plano nas ultimas eleições. Três dos cinco partidos socialistas assinaram o memorando imposto a Portugal. Toda a definição do caminho a seguir estava por isso definida. Mesmo assim estes (desculpem o termo) anormais incompetentes conseguiram não aproveitar a hipótese circunstancial (de o programa lhes ter sido imposto, inclusive com reformas associadas em cima da mesa) para fazer as reformas estruturais que Portugal necessitava para ser competitivo.

- Não se fez uma reforma da legislação laboral. Continuamos com o mesmo disparate socialista, que perpetua o desemprego e premeia a mediocridade de quem não quer trabalhar mas não pode ser despedido sem custos elevados para quem cria empregos. Não é de estranhar que tantos portugueses sigam para países como a Inglaterra (legislação laboral mais liberal do planeta!). O mesmo se passa com o capital e investimentos.

- A nossa justiça não funciona em tempo útil. Se justiça não há como cobrar dividas, impor coercivamente o respeito por acordos, salvaguardar respeito por regras. que Deve ser profundamente complicado olhar para países onde funciona e aplicar a mesma formula. dado que a nossa tem dado tão bons resultados é de ir fazendo remendos cosméticos. Pessoalmente não acredito minimamente em nenhum processo que tenha de passar pela justiça portuguesa. Restam empresas de cobranças, ter cuidado com o que se acorda, e não poder dar qualquer tipo de crédito ou conferir credibilidade a seja quem for. É um mau pressuposto para se fazerem negócios.

- O estado continua a perpetuar dividas a fornecedores (na minha opinião o estado não deve ter em nenhuma circunstância qualquer tipo de divida e os pagamentos devem ser nas datas estipuladas para o efeito) e a dar os piores exemplos de incumprimento.

- O estado continua a cobrar impostos indevidos de forma abusiva (IVA contra facturas, exigindo às empresas a entrega de um imposto que ainda não foi cobrado aos seus clientes). Quando não paga a um fornecedor atempadamente (i.e. sempre!) chega ao absurdo de exigir o IVA “em dia” das facturas que tem em atraso aos seus fornecedores quando finalmente decidir que vaio fazer o pagamento.

- Continuamos a ter uma máquina social (de serviços e benefícios) que não podemos pagar. O governo dos três partido signatários do memorando (oficialmente de dois deles, na prática um compromisso a três) foi incapaz de reduzir a despesa pública de forma significativa: para metade ou um terço. Realizou “operações de cosmética” mantendo o real problema: gastamos mais dinheiro do que a sociedade gera em impostos. Em vez disso criaram uma aberração fiscal que afasta empresas e riqueza do nosso país, numa situação em que há liberdade de movimento de pessoas e capitais dentro da união europeia. Assim não é “complicado”, é mesmo impossível.

No cenário (único e extraordinário) em que havia um compromisso dos três maiores partidos com um documento não foi alterada a constituição (socialista, utópica e ultrapassada) que temos, não foram alteradas as estruturas que nos condenam a ser pobres e pouco competitivos.


Democracias e totalitarismo



Não é de animo leve que realizo a falência e distorções existentes na nossa sociedade. Os regimes democráticos criaram uma classe dirigente corrupta, incompetente e subserviente, e um sistema que a perpetua. As pessoas votam cada quatro anos em cinco partidos socialistas, que no fundamental estão de acordo, variando apenas em questões de pormenor quanto a abordagens a tomar. O sistema partidário trabalha fundamentalmente para si próprio, é na prática controlado por interesses transversais aos cinco partidos (i.e. maçonaria e opus dei), e a classe dirigente serve-se primordialmente a si própria.

O ciclo, mostra a história, só é quebrado em momentos de profunda depressão e falência. É nessas circunstancias que se geram “Hitlers” a ganhar eleições e a chegar ao poder em regimes democráticos. A Europa para lá caminha. Não é um problema “português”, ou “grego”, ou “espanhol”. É irónico ver a Alemanha a receitar o mesmo remédio (empobrecimento e austeridade) que lhes foi imposto no final da primeira guerra mundial, conduziu à ascensão ao poder do partido nazi, e a antítese de que proporcionou ao mundo mais de meio século de paz no final da segunda guerra mundial..

Quando não se aprende com a história estamos condenado a repetir a mesma, e é preciso ser profundamente estúpido para não se perceber a relação entre causa de efeito a que leva esta lógica, para esperar resultados diferentes.

A minha única esperança neste momento é o exemplo islandês, que substituiu uma classe dirigente que levou o país à ruína, fazendo literalmente uma revolução. Adivinhem qual é o país europeu mais distante da crise actual?

Por favor acordem. Antes que morra gente, antes que se chegue a guerras civis ou à terceira guerra mundial. Por mim, por si, pelos seus filhos e pessoas de quem gosta. Portugal precisa de um novo partido político, de lideres decentes, de pessoas que evitem o que está no horizonte. É assustadoramente óbvio o que vai acontecer.

O nosso desgoverno



desgoverno |ê|
(
des- + governo)
s. m.
1. Falta de governo.
2. Mau governo; má administração.
3. Desperdício, esbanjamento.


desgovernar
(
des- + governar)
v. tr.
1. Governar mal.
2. Desperdiçar, malgastar.
v. intr.
3. Não obedecer ao leme; navegar sem governo.
v. pron.
4. Desregrar-se; governar-se mal.


O problema...



Portugal tem um sério problema de “desgoverno”. Vivemos numa sociedade utópica, em que cinco partidos socialistas lutam de quatro em quatro anos pelo poder, conferido por um regime democrático. Todos os partidos defendem a preservação de um estado social, gentil e paternal, que cuida da nossa educação, saúde e segurança. Variam ligeiramente as abordagens, entre os diferentes partidos, mas nenhuma delas é minimamente realista ou pragmática e todos são “defensoras da utopia do estado social”.

Realismo e pragmatismo são necessários para determinar “o que queremos” e (objectivamente) “o que podemos pagar”. Não havendo meios para “pagar tudo o que queremos”, teremos que fazer escolhas. Salvaguardamos o que consideramos mais importante em detrimento do resto. O que não podemos fazer é construir um estado social que não podemos pagar. Isso é uma perversão.

O resultado de quase 40 anos de socialismo descontrolado, pago a crédito, sem qualquer tipo de rigor. É um país falido, com a maior carga fiscal de sempre, em que o estado social não é a organização de “excedentes” para salvaguardar os mais fracos. Aparentemente “o estado social é o objectivo”, a perseguir mesmo que isso implique destruir o tecidos produtivo da sociedade que o sustenta. É um estado social também suicida.

Alguém nos mentiu, criou a ilusão de que somos ricos, e que os problemas são de “eficiência” do estado. Retirar “os excessos de gordura” da máquina foi o grande plano que este governo usou como plataforma eleitoral. Isto é uma visão completamente surrealista do problema. Não é a (óbvia) falta de eficiência do estado que é o problema. É o excesso de ambição na definição de objectivos e o descontrole da despesa. Ninguém com dois dedos de testa espera qualquer tipo de eficiência das organizações estatais. As organizações estatais são corruptas, as pessoas que as gerem escolhidas por políticos, todo o modelo é de profunda ineficiência. A progressão na carreira é baseada no tempo que passa e botas lambidas. Porque raio alguém pode esperar um resultado diferente do que é previsível?

O problema é que as mesmas não vivem com o seu orçamento “limitado ao que os contribuintes pagam”, pelo contrário “criam dividas” em nosso nome, para serem saldados com “impostos futuros”. Este é o único problema real. Esta irresponsabilidade criminosa, em nome de ideais “nobres”, perpetuada pelo mar de corrupção e jogos de interesse da nossa classe política. A corrupção e incapacidade de prestar os serviços de forma eficiente são “fogo de vista”, “areia para o ar”. Ninguém quer saber disso se for barato, ou pelo menos sustentável, até faz as pessoas sentirem-se gratificadas por viverem numa sociedade que cuida dos seus elementos mais fracos. Nunca ninguém fez drama nenhum da “misericórdia” ser um antro de “tias”, a gastar o dinheiro dos outros para ajudar terceiros”, com a ineficiência digna de qualquer policia africana. O problema é quando essa máquina nos destrói, criando dividas impossíveis de pagar, asfixiando a sociedade em vez de a servir.


As falsas soluções (que agravam os problemas antigos e criam alguns novos)



Quem acredita que “retirando gorduras e ineficiência” das máquinas estatais é um projecto possível? Dedo no ar… ok, um dois… vários idiotas. Entendam de uma vez: não podem fazer organizações eficientes se:

- Ninguém pode ser despedido. Não há discriminação negativa para quem não se esforça, ou para quem sabotar o trabalho dos outros, ou para quem pura e simplesmente se está nas tintas. Sem poder trocar os maus funcionários públicos por outros, sem essa ameaça omnipresente, é impossível optimizar seja o que for.

- Ninguém é premiado por trabalhar mais. Não há discriminação positiva, o talento e esforço não são sinónimos de reconhecimento, de uma mais rápida e merecida progressão na carreira, de melhores salários e benefícios.

Qual é o problema? O sistema está moldado para a massa de funcionários públicos ser uniforme, em que as pessoas não são discriminadas, e a discriminação é necessária. Porque os seres humanos não são todos iguais, porque uns trabalham mais que outros, porque uns se encostam mais que outros. Quando a assiduidade é mais importante que o que é produzido, quando as metas são picar o ponto à entrada e saída, quando as avaliações são um processo que se pretende “não discriminatório”, o resultado é visível para todos.

Eu percebo que toda a gente goste da ideia de haver “ensino” gratuito, “saúde” gratuita, “segurança” gratuita, apoios para todos os que estão em dificuldades, etc. Isso todo seria óptimo e realizável se fossemos ricos. O socialismo é óptimo para países com petróleo/diamantes/gás. Em que se a parte necessária da população (ou estrangeiros) o extraírem, o resto das pessoas pode viver das mais valias geradas. Em países pobres o socialismo precisa de ser proporcional à riqueza que a sociedade gera, ou seja, só pode gastar as mais valias geradas em impostos pela população activa. Se geram pouca riqueza temos que ter menos socialismo.

Cortar os salários de forma cega, não discriminatória e transversal a toda a função publica é um disparate de proporções épicas! Precisamos de cortar com os elementos menos produtivos (despedir as pessoas!), atrair novos elementos mais produtivos (contratar pessoas com capacidade e vontade de trabalhar) com melhores salários para os que ficam. É precisamente nesta gestão sem discriminação que está um dos grandes problemas. O que fizeram, ao cortar 1/7 dos rendimentos foi penalizar todos os funcionários públicos, independentemente de quem trabalha muito ou pouco. Pura demência, uma tremenda injustiça, e uma redução em apenas 1/7 dos custos, sem qualquer optimização ou beneficio para a máquina estatal. Era preferível despedir metade das pessoas (ou 1/3, ou 2/3, seja qual for o numero correcto) e aumentar os salários de quem fica, contratar bons gestores no mercado, com contratos a prazo e salários parcialmente dependentes de resultados (não digo “altos”, porque altíssimos já eles são em muitas empresas públicas e de capitais públicos: o erro é não estarem indexados a resultados e níveis de eficiência, são tachos, cemitérios de elefantes brancos políticos, ninhos de lambe botas que nunca geriram uma empresa “real” fora da asa do estado).


As soluções (simples de perceber e implementar)



O problema: Temos uma máquina estatal (de gastar dinheiro) desproporcional, que nos endividou em mais de 100% de toda a riqueza gerada no país por ano (i.e. PIB). Precisamos de pagar essa divida e lidar com o tamanho desse “monstro” consumidor de dinheiro.

A solução é reduzir a máquina estatal à dimensão que podemos pagar (i.e. o nosso orçamento), deixando margem para o pagamento das nossas dividas. Não sei se é 2/3, 1/2 ou 1/3 do tamanho actual. Mas não deve ser difícil fazer a conta de merceeiro e descobrir. Isso implica despedir muita gente (muda-se a lei, não podemos ter leis impraticáveis e insustentáveis, e é para isso que temos organismos legislativos, caso contrário não precisávamos de novas leis), fechar muitos hospitais, escolas, acabar ou baixar muitos subsídios, adequar as nossas despesas em exércitos (onde temos mais generais que os estados unidos, num exercito muito menor!) e policias. Se isto for implementado resolvem o problema de fundo.

O estado não gera riqueza. Apenas a gasta. A solução de atacar “as receitas” (cobrando mais impostos) e baixar com pinças as despesas (ai, não queremos despedir ninguém, nem fechar muita coisa, vamos antes cortar dois salários por ano e em “detalhes” que dão nas vistas) é uma falsa solução. Pior que isso, é uma solução que afasta investidores de Portugal, que fecha empresas, que estrangula quem gera as receitas para o estado gastar. É um completo suicídio, que vai levar Portugal para um filme Grego. E o filme é o mesmo, eles vão é uns capítulos à nossa frente. O resultado do disparate de impostos vai ser haver menos empresas, menos economia, e consequentemente menos impostos cobrados. O estado fica com despesas agravadas exactamente na mesma proporção; subsídios de desemprego, rendimentos mínimos e aumento da criminalidade.

Mudem a legislação laboral para o modelo Inglês ou Americano (nem precisam de inventar nada!).
O que nós temos é uma barbaridade socialista que torna as nossas empresas pouco competitivas e perpetua o desemprego (limitando a rotatividade de quem trabalha). Querem investimento a sério, já, e pleno emprego? Adoptem os modelos chinês, brasileiro ou Indiano. Decidam com querem querem competir. Neste momento o que estão a fazer é destruir a nossa sociedade. E sem ela paradoxalmente o vosso “querido e falido estado social”. Deixem as empresas empregar quem quer trabalhar e despedir quem não quer. Acabem com os subsídios (e respectivos impostos para a segurança social) e vão ver como as pessoas se mexem. Até vou mais longe: DEIXEM AS PESSOAS ESCOLHER! Deixem que as pessoas escolham entre “o vosso querido estado social ultra regulamentado” e o “liberalismo puro”, implementando um duplo sistema (como na china) e vão ver quantas pessoas preferem os empregos inexistentes e regulamentados face à abundância de oportunidades. Convidar as pessoas a emigrar é uma estupidez sem paralelo. Porque é que eu conheço tanta gente a ir para Londres e para os Estados Unidos? Porque lá há menos socialismos estúpidos e mais empregos. Deixem antes que as empresas venham para cá com impostos mais baixos, ampla oferta de mão de obra, e com um duplo sistema em que as pessoas escolham se querem a “vossa protecção” ou trabalhar nos moldes em que acordarem com os respectivos patrões.

E por favor, parem de enganar as pessoas, acabem lá com a ilusão de que somos ricos e só podemos trabalhar X horas por semana em empregos em que se não formos produtivos é… igual. Pode parecer uma “doce e conveniente mentira branca”, mas está a assassinar o nosso país. É insustentável manter 5 partidos com diferentes tonalidades de socialismo, uma constituição que parte do pressuposto que temos petróleo ou diamantes, e uma legislação que premeia a mediocridade.

Quem salvar o país perde as eleições seguintes? Provavelmente. Mas que diferença faz que mudem os porcos da nossa quinta orwelliana? Não consigo descobrir nem políticos honestos capazes de dominar as máquinas partidárias (muito eu gostava de ver o Rui Rio primeiro ministro), nem vejo um povo consciente da barbaridade que foram os últimos 40 anos. Tanta gente estúpida que continua a reclamar os ideais utópicos do refrão da cantiga que lhes deram.

Atentado de Camarate: a confissão

O que toda a gente sabia, mas que as autoridades fizeram por ignorar, deixando passar em branco o assassinato do Primeiro Ministro de Portugal. Pessoalmente não tenho duvida nenhuma sobre a veracidade do que é descrito.

Fonte:


http://www.scribd.com/doc/89792623/Camarate-1ª-Parte http://www.scribd.com/doc/89798332/Camarate-2ª-Parte http://www.scribd.com/doc/89803494/Camarate-3ª-Parte http://www.scribd.com/doc/89807938/Camarate-4ª-Parte http://www.scribd.com/doc/89814334/Camarate-5ª-Parte-ULTIMA-PARTE


Texto integral:



Eu, Fernando Farinha Simões, decidi finalmente, em 2011, contar toda a verdade sobre Camarate. No passado nunca contei toda a operação de Camarate, pois estando a correr o processo judicial, poderia ser preso e condenado. Também porque durante 25 anos não podia falar, por estar obrigado ao sigilo por parte da CIA, mas esta situação mudou agora, ao que acresce o facto da CIA me ter abandonado completamente desde 1989. Finalmente decidi falar por obrigação de consciência.
Fiz o meu primeiro depoimento sobre Camarate, na Comissão de Inquérito Parlamentar, em 1995. Mais tarde prestei alguns depoimentos em que fui acrescentando factos e informações. Cheguei a prestar declarações para um programa da SIC, organizado por
Emílio Rangel, que não chegou contudo a ir para o ar. Em todas essas declarações públicas contei factos sobre o atentado de Camarate, que nunca foram desmentidos, apesar dos nomes que citei e da gravidade dos factos que referi. Em todos esses relatos, eu desmenti a tese oficial do acidente, defendida pela Polícia Judiciária e pela Procuradoria Geral da Republica. Numa tive dúvidas de que as Comissões de Inquérito Parlamentares estavam no caminho certo, pois Camarate foi um atentado. Devo também dizer que tendo eu falado de factos sobre Camarate tão graves.e do envolvimento de certas pessoas nesses factos, sempre me surpreendeu que essas pessoas tenham preferido o silêncio. Estão neste caso o Tenente Coronel Lencastre Bernardo ou o Major Canto e Castro. Se se sentissem ofendidos pelas minhas declarações, teria sido lógico que tivessem reagido. Quanto a mim, este seu silêncio só pode significar que, tendo noção do que fizeram, consideraram que quanto menos se falar no assunto, melhor.

Nessas declarações que fiz, desde 1995, fui relatando, sucessivamente, apenas parte dos factos ocorridos, sem nunca ter feito a narração completa dos acontecimentos. Estávamos ainda relativamente próximos dos acontecimentos e não quis portanto revelar todos os pormenores, nem todas as pessoas envolvidas nesta operação. Contudo, após terem passado mais de 30 anos sobre os factos, entendi que todos os portugueses tinham o direito de conhecer o que verdadeiramente sucedeu em Camarate. Não quero contudo deixar de referir que hoje estou profundamente arrependido de ter participado nesta operação, não apenas pelas pessoas que aí morreram, e cuja qualidade humana só mais tarde tive ocasião de conhecer, como do prejuízo que constituiu, para o futuro do país, o desaparecimento dessas pessoas. Naquela altura contudo, Camarate era apenas mais uma operação em que participava, pelo que não medi as consequências. Peço por isso desculpa aos familiares das vítimas, e aos Portugueses em geral, pelas consequências da operação em que participei.

Gostaria assim de voltar atrás no tempo, para explicar como acabei por me envolver nesta operação. Em 1974 conheci, na África do Sul, a agente dupla alemã, Uta Gerveck, que trabalhava para a BND (Bundesnachristendienst) - Serviços de Inteligência Alemães Ocidentais, e ao mesmo tempo para a Stassi. A cobertura legal de Uta Gerveck é feita atravez do conselho mundial das Igrejas (uma espécie de ONG), e é através dessa fachada que viaja praticamente pelo Mundo todo, trabalhando ao mesmo tempo para a BND e para a Stassi. Fez um livro em alemão que me dedicou, e que ainda tenho, sobre a luta de liberdade do PAIGC na Guiné Bissau. O meu trabalho com a Stassi veio contudo a verificar-se posteriormente, quando estava já a trabalhar para a CIA. A minha infiltração na Stassi dá-se por convite da Uta Gerveck, em l976, com a concordância da CIA, pois isso interessava-lhes muito.
Úta Gerveck apresenta-me, em 1978, em Berlim Leste, a Marcus Wolf, então Director da Stassi. Fui para esse efeito então clandestinamente a Berlim Leste, com um passaporte espanhol, que me foi fornecido por Úta Gerveck. 0 meu trabalho de infiltração na Stassi consistiu na elaboração de relatórios pormenorizados acerta das “toupeiras" infiltradas na Alemanha Ocidental pela Stassi. Que actuavam nomeadamente junto de Helmut Khol, Helmut Schmidt e de Hans Jurgen Wischewski. Hans Jurgen Wischewski era o responsável pelas relações e contactos entre a Alemanha Ocidental e de Leste, sendo Presidente da Associação Alemã de Cooperação e Desenvolvimento (ajuda ao terceiro Mundo), e também ia às reuniões do Grupo Bilderberg. Viabilizou também muitas operações clandestinas, nos anos 70 e 80. de ajuda a gupos de libertação, a partir da Alemanha Ocidental. Estive também na Academia da Stassi, várias vezes, em Postdan - Eiche.
Relativamente ao relato dos factos, gostaria de começar por referir que tenho contactos, desde 1970, em Angola, com um agente da CIA, que é o jornalista e apresentador de televisão Paulo Cardoso (já falecido). Conheci Paulo Cardoso em Angola com quem trabalhei na TVA - Televisão de Angola na altura.

Em 1975, formei em Portugal, os CODECO com José Esteves, Vasco Montez, Carlos Miranda e Jorge Gago (já falecido). Esta organização pretendia, defender, em Portugal, se necessário por via de guerrilha, os valores do Mundo Ocidental.

Através de Paulo Cardoso sou apresentado, em 1975, no Hotel Sheraton, em Lisboa, a um agente da CIA, antena, (recolha de informações), chamado Philip Snell. Falei então durante algum tempo com Philip Snell. O Paulo Cardoso estava então a viver no Hotel Sheraton. Passados poucos dias, Philip Snell, diz-me para ir levantar, gratuitamente, um bilhete de avião, de Lisboa para Londres, a uma agência de viagens na Av. de Ceuta, que trabalhava para a embaixada dos EUA. Fui então a uma reunião em Londres, onde encontrei um amigo antigo, Gary Van Dyk, da África do Sul, que colaborava com a CIA. Fui então entrevistado pelo chefe da estação da CIA para a Europa, que se chamava John Logan. Gary Van Dyk, defendeu nessa reunião, a minha entrada para a CIA, dizendo que me conhecia bem de Angola, e que eu trabalhava com eficiência. Comecei então a trabalhar para a CIA, tendo também para esse efeito pesado o facto de ter anteriormente colaborado com a NISS - National Intelligence Security Service ( Agência Sul Africana de Informações). Gary Van Dyk era o antena, em Londres, do DONS - Department Operational of National Security ( Sul Africana ).

Regressando a Lisboa, trabalhei para a Embaixada dos EUA, em Lisboa entre 1975 e 1988, a tempo inteiro. Entre 1976 e 1977, durante cerca de uma ano e meio vivi numa suite no Hotel Sheraton, o que pode ser comprovado, tudo pago pela Embaixada dos EUA. Conduzia então um carro com matrícula diplomática, um Ford, que estacionava na garagem do Hotel. Nesta suite viveu também a minha mulher, Elsa, já grávida da minha filha Eliana. O meu trabalho incluía recolha de informações /contra informações, informações sobre tráfico de armas, de operações de combate ao tráfico de droga, informações sobre terrorismo, recrutamento de informadores, etc. Estas actividades incluem contactos com serviços secretos de outros países, como a Stassi, a Mossad, e a "Boss" (Sul Africana), depois NISS - National Information Sectret Service, depois DONS e actualmete SASS.
Era pago em Portugal, reccebendo cerca de USD 5.000 por mês. Nestas actividades facilita o facto de eu falar seis línguas. Actuei utilizando vários nomes diferente, com passaportes fornecidos pela Embaixada dos EUA em Lisboa. Facilitava também o facto de eu falar um dialecto angolano, o kimbundo.
A Embaixada dos EUA tinha também uma casa de recuo na Quinta da Marinha, que me estava entregue, e onde ficavam frequentemente agentes e militares americanos, que passavam por Portugal. Era a vivenda "Alpendrada".
A partir de 1975, como referi, passei a trabalhar directamente para a CIA. Contudo a partir de 1978, passei a trabalhar como agente encoberto, No chamado "Office of Special Operations", a que se chamava serviços clandestinos, e que visavam observar um alvo, incluindo perseguir, conhecer e eliminar o alvo, em qualquer país do mundo, excepto nos EUA. Por pertencermos a este Office, éramos obrigados a assinar uma clausula que se chamava "plausible denial" que significa que se fossemos apanhados nestas operações com documentos de identificação falsos, a situação seria por nossa conta e risco, e a CIA nada teria a ver com a situação. Nessa circunstância tínhamos o discurso preparado para explicar o que estávamos a fazer, incluindo estarmos preparados para aguentar a tortura.
Trabalhei para o "Office of Special Operations ” até 1989, ano em que saí da CIA.

Para fazer face a estes trabalhos e operações, as minhas oontas dos cartões de crédito do VISA, American Express e Dinners Club, tinham, cada uma, um planfond de 10.000 USD, que podiam ser movimentados em caso de necessidade. Estes cartões eram emitidos no
Brasil, em bancos estrangeiros sediados no Brasil, como o Citibank, o Bank of Boston ou o Bank of America. Entre 1975 e 1989, portanto durante cerca de 14 anos, gastei com estes cartões cerca de 10 milhões de USD, em operações em diversos países, nomeadamente pagando a informadores, políticos, militares, homens de negócios, e também traficantes de armas e de drogas, em ligação com a DEA (Drug Enforcement Agency), Existiram outros valores movimentados à parte, a partir de um saco azul, “em cash”, valores esses postos à disposição pelo chefe da estação da CIA, no local onde as operações eram realizadas. Este saco azul servia para pagar despesas como viagens, compras necessárias, etc.

Posso referir que a operação de Camarate, que a seguir irei transcrever custou a preços de 1980 entre 750000 e 1 milhão de USD. Só o Sr, José António dos Santos Esteves recebeu 200000 USD. Estas despesas relacionadas com a operação de Camarate, incluíram os pagamentos a diversas pessoas e participantes, como o Sr. Lee Rodrigues, como seguidamente irei descrever.

Entre 1975 e 1988, participei em vários cursos e seminários em Langley, Virginia e Quantico, pago pela CIA, sobre informação, desinformação, contra-informação. terrorismo, contra-terrorismo, infiltrações encobertas, etc, etc.

Trabalhei em serviços de infiltração pela CIA e pela DEA (Drug Enforcement Agency), em diferentes países, como Portugal, El Salvador, Bolívia, Colômbia,Venezuela, Peru, Guatemala, Nicarágua, Panamá, Chile, Líbano, Síria, Egipto, Argélia, Marrocos, Filipinas.

A minha colaboração com a DEA, iniciou-se em 1981, através de Richard Lee Armitage.
Em 1980, Richard Armitage viria também a estar comigo e com o Henry Kissinger em Paris, Richard Lee Armitage era membro do CFR (Counceil for Foreign Affairs and Relations) e da Organização e Cooperação para a Segurança da Europa (OSCE), criada pela CIA, Richard Armitage era também membro, na altura, do Grupo Carlyle, do qual o CEO era Frank Carlucci. O Grupo Carlyle dedica-se à construção civil, imobiliário e é uma dos maiores grupos de tráfico de armas no Mundo, junto com o Grupo Haliburton, chefiado por Richard "Dick" Cheney. O Grupo Carlyle pertence a vários investidores privados dos EUA, por regra do Partido Republicano. Este grupo promove nomeadamente vendas de armas, petróleo e cimento para países como o Iraque, Afeganistão e agora para os países da primavera árabe.

A lavagem do dinheiro do tráfico de armas e da droga, era feito, na altura, pelo Banco BCCI, ligado à CIA e à NSA - National Security Agency. O BCCI foi fundado em 1972 e fechado no princípio dos anos 90, devido aos diversos escândalos em que esteve envolvido.

Oliver North pertencia ao Conselho Nacional de Segurança, às ordens de william walker, ex-embaixador dos EUA em El Salvador. Oliver North seguiu e segue sempre as ordens da CIA, dependente de William Casey. Oliver North está hoje retirado da CIA , e é CEO de vários grupos privados americanos, tal como Frank Carlucci.


Da DEA conheci Celerino Castilho, Mike Levine. Anabelle Grimm e Brad Ayers, tendo trabalhado para a DEA entre 1975 até 1989. Da CIA trabalhei também com Tosh Plumbey, Ralph Megehee - tenente coronel da NSA, actualmente reformado. Da CIA trabalhei ainda com Bo Gritz e Tatum. Estes dois agentes tinham a sua base de operações em El Salvador, (onde eu também estive durante os anos 80, durante o tráfico Irão - Contras), desenvolvendo nomeadamente actividades com tráfico de armas. Uma das suas operações consistiu no transporte de armas dos EUA para El-Salvador, que eram depois transportadas para o Irão e a Nicarágua. Os aviões, normalmente panamianos e colombianos regressavam depois para os EUA com droga, nomeadamente cocaína, proveniente de países como a Colômbia, Bolivia e El Salvador, que serviam para financiar a compra de armas. Esta actividade desenvolveu-se essencialmente desde os finais dos anos 70 até 1988.

A cocaina vinha nomeadamente da Ilha Normans Cay, nas Bahamas, de que era proprietário Carlos Lheder Rivas. Carlos Rivas era um dos chefes do Carte de Medellin, trabalhando para este cartel e para ele próprio. Carlos Rivas era, neste contexto um personagem importante, sendo o braço direito de Roberto Vesco, que trabalhava para a CIA e para a NSA. Roberto Vesco era proprietário de Bancos nas Bahamas, nomeadamente o colombus trust. Carlos rivas fazia toda a logística de Roberto Vesco e forneciam armas a troco de cocaina, nomeadamente ao movimento de guerrilha Colombiano M19. Roberto Vesco está hoje refugiado em Cuba.

O dinheiro das operações de armas e de droga são lavadas no Banco BCCI e noutros bancos, com o nome de código "Amadeus". Há no entanto contas activas nas Bahamas e em Norman's Cay, nas Ilhas Jersey, que gerem contas bancárias, nomeadamente para o tráfico de armas para os “Contras” da Nicarágua, e para o Irão.

Como acima referi, muito desse dinheiro foi para bancos americanos e franceses, o que em parte explicará porquê é que Manuel Noriega foi condenado a 60 anos de prisão, tendo primeiro estado preso nos EUA, depois em França, e actualmente no Panamá. Foi preso porque era conveniente que estivesse calado, não referindo nomeadamente que partilhava com a CIA, o dinheiro proveniente da venda de armas e da venda de drogas. Noriega movimentava contas bancárias em mais de 120 bancos, com conhecimento da CIA. Noriega fazia também parte da operação Black Eagle, dedicada ao tráfico de armas e de droga, que
em 1982 se transformou numa empresa chamada Enterprise, com a colaboração de Oliver North e de Donald Gregg da CIA. Em face do grau de informações e de conhecimento que tinha, é fácil de perceber porquê se verificou o derrube e a prisão de Noriega. Devo dizer que estou pessoalmente admirado que não o tenham até agora “suicidado", pois deve ter muitos documentos ainda guardados. Noriega tinha a intenção de contar tudo o que sabia sobre este tráfico, nomeadamente sobre os serviços prestados à CIA e a Bush Pai, tendo por isso sido preso. Washington e a CIA são assim veículos importantes do tráfico de armas e de droga, utilizando nomeadamente os pontos de apoio de South Flórida e do Panamá.

No início dos anos 80 conheci um traficante do cartel de Cali, de nome Ramon Milian Rodriguez, que depois mais tarde perante uma comissão do Senado Americano, onde falou do tráfico de armas e de droga, do branqueamento de dinheiro, bem como das cumplicidades de Oliver North neste tráfico às ordens de Bush Pai e do Donald Gregg.
Muito do dinheiro gerado nessas vendas foi para bancos americanos e franceses. Este dinheiro servia também para compras de propriedades imobiliárias. Por estar ligado a estas operações, Noriega foi preso pelos EUA.

Foi numa operação de droga que realizei na Colômbia e nas Bahamas, em 1984, onde se deu a prisão de Carlos Lheder Rivas, do Cartel de Medallin, em que eu não concordei com os agentes da DEA da estação de Maiami, pois eles queriam ficar com 10 milhões de dólares e com o avião "lear-jet" provenientes do tráfico de droga. Não concordando, participei desses agentes ao chefe da estação da DEA de Maiami. Este chefe mandou-lhes então levantar um inquérito, tendo sido presos pela própria DEA. A partir de aí a minha vida tornou-se num verdadeiro inferno, nomeadamente com a realização de armadilhas, e detenções, tendo acabado por sair da CIA em 1989, a conselho de Frank Carlucci. O principal culpado da minha saída da CIA foi e da DEA foi John C. Lawn, director da estação da DEA e amigo de Noriega e de outros traficantes. John Lawn encobriu, ou tentou encobrir, todos os agentes da DEA que denunciei aquando da prisão de Carlos Rivas. Após a minha saída da CIA, Frank Carlucci continuou contudo a ajudar-me com dinheiro, com conselhos e com apoio logístico, sempre que eu precisei até 1994.

Regressando contudo à minha actividade em Portugal, anteriormente a Camarate e ao serviço da CIA, devo referir que conheci Frank Carlucci, em 1975, através de duas pessoas: um jornalista Português da RTP, já falecido, chamado Paulo Cardoso de Oliveira, que conhecera em Angola, e que era agente da CIA, e Gary Van Dyk, agente da BOSS (Sul Africana) que conheci também em Angola. Mantive contactos directos frequentes com Frank Carlucci, sobretudo entre l975 e 1982, de quem recebi instruções para vários trabalhos e operações. Os meus contactos com Frank Carlucci mantêm-se até hoje, com quem falo ainda ocasionalmente pelo telefone. A última vez que estive com ele foi em Madrid, em 2008, na escala de uma viagem que Frank Carlucci realizou à Turquia.

Em Lisboa, também lidei e recebi ordens de William Hasselberg - antena da CIA em Lisboa, que além de recolher informacões em Lisboa actua como elo de ligação entre portugueses e americanos. Tive inclusivamente uma vida social com William Hasselberg, que inclui uma vida nocturna em Lisboa, em diferentes bares, restaurantes, e locais públicos. William Hasselberg gostava bastante da vida nocturna, onde tinha muito gosto em aparecer com as suas diversas “conquistas” femininas. Trabalhei também com outros agentes da CIA, nomeadamente Philip Agee. Neste âmbito, trabalhei em operações de tráfico de armas, e em infiltrações em organizações com o objectivo de obter informações políticas e militares, “Billie” Hasselberg fala bem português, e era grande amigo de Artur Albarran, Hasselberg e Albarran conheceram-se numa festa da embaixada da Colômbia ou Venezuela, tendo Albarran casado nessa altura, nos anos 80, com a filha do embaixador, que foi a sua primeira mulher.

Das reuniões que tive com a embaixada americana em Lisboa, a partir de 1978, conheci vários agentes da CIA. O Chefe da estação da CIA em Portugal, John Logan, oferece-me um livro seu autografado. Conheci também o segundo chefe da CIA, Sr. Philip Snell, Sr. James Lowell, e o Sr. Arredondo. Da parte militar da CIA conheci o cor Wilkinson, a partir de quem conheci o coronel Oliver North e o coronel Peter Bleckley. O coronel Oliver North, militar mas também agente da CIA e o coronel Peter Bleckley, são os principais estrategas nos contactos internacionais, com vista ao tráfico e venda de armas, nomeadamente com países como Irão, Iraque, Nicarágua, e o El Salvador. Na sequência do conhecimento que fiz com Oliver North , tendo várias reuniões com ele e com agentes da CIA, por causa do tráfico e negócio de armas. Estas reuniões têm lugar em vários países, como os EUA, o México, a Nicarágua, a Venezuela, o Panamá. Neste último país contacto com dois dos principais adjuntos de Noriega, José Bladon, chefe dos serviços secretos do Panamá, que me disse que praticamente todos os embaixadores do Panamá em todo o Mundo estavam ao serviço de Noriega.

Blandon pediu-me na altura se eu arranjava um Rolls Royce Silver Spirits, para o embaixador do Panamá em Lisboa, o que acabei por conseguir.

Em meados de 1980, Frank Carlucci refere-me, por alto, e pela primeira vez, que eu iria ser encarregue de fazer um "trabalho" de importância máxima e prioritária em Portugal, com a ajuda dele, da CIA, e da Embaixada dos EUA em Portugal, sendo-me dado, para esse efeito, todo o apoio necessário.

Tenho depois reuniões em Lisboa, com o agente da CIA, Frank Sturgies, que conheço pela primeira vez. Frank Sturgies é uma pessoa de aspecto sinistro e com grande frieza, e é organizador das forças anti-castristas, sediadas em Miami, e é elo de ligação com os "contra" da Nicarágua. Frank Sturgies refere-me então, que está em marcha um plano para afastar, definitivamente, (entenda-se eliminar) uma pessoa importante, ligada ao Governo Português de então, sem dizer contudo ainda nomes.

Algum tempo depois, possívelmente em Setembro ou Outubro de 1980, jogo ténis com Frank Cariucci quase toda a tarde, na antiga residência do embaixador dos EUA, na Lapa. Janto depois com ele, onde Frank Cartucci refere novamente que existem problemas em Portugal para a venda e transporte de armas, e que Francisco Sá Carneiro não era uma pessoa querida dos EUA. Depois já na sobremesa, juntam-se a nós o General Diogo Neto, o Coronel Vinhas, o Coronel Robocho Vaz e Paulo Cardoso, onde se refere novamente a necessidade de se afastarem alguns obstáculos existentes ao negócio de armas. Todos estes elementos referem a Frank Caducci que eu sou a pessoa indicada para a preparação e implementação desta operação.

Em Outubro de 1980, num juntar no Hotel Sharaton onde participo eu, Frank Sturgies (CIA), Vilfred Navarro (CIA), o General Diogo Neto e o Coronel Vinhas (já falecidos), onde se refere que há entraves ao tráfico de armas que têm de ser removidos. Depois há um outro jatar também no Hotel Sharaton, onde participam, entre outros, eu e o Coronel OliverNorth, onde este diz claramente que "é preciso limar algumas arestas" e "se houver necessidade de se tirar alguém do caminho, tira-se", dando portanto a entender que haverá que eliminar pessoas que criam problemas aos negócios de venda de armas. Oliver North diz-me também que está a ter problemas com a sua própria organização, e que teme que o possam querer afastar e "deixar cair", o que acabou por acontecer.

Há também Portugueses que estavam a beneficiar com o tráfico de armas, como o Major Canto e Castro, o General Pezarat Correia, Franco Charais e o empresário Zoio. Sabe-se também já nessa altura que Adelino Amaro da Costa estava a tentar acabar com o tráfico de armas, a investigar o fundo de desenvolvimento do Ultramar, e a tentar acabar acabar com lobbies instalados. Afastar essas duas pessoas pela via política era impossível, pois a AD tinha ganho as eleições. Restava portanto a via de um atentado.

Passados alguns dias, recebo um telefonema do Major Canto e Castro (pertencente ao conselho da revolução), que eu já conhecia de Angola, pedindo para eu me encontrar com ele no Hotel Altis. Nessa reunião está também Frank Sturgies, e fala-se pela primeira vez em "atentado", sem se referirem ainda quem é o alvo. referem que contam comigo para esta operação. O Major Canto e Castro diz que é preciso recrutar alguém capaz de realizar esta operação.

Tenho depois uma segunda reunião no Hotel Altis com Frank Sturgies e Philip Snell, onde Frank Sturgies me encarrega de preparar e arranjar alguns operacionais para uma possível operação dentro de pouco tempo, possivelmente dentro de 2 ou 3 meses. Perguntam-me se já recrutou a pessoa certa para realizar este atentado, e se eu conheço algum perito na fabricação de bombas e em armas de fogo. Respondo que em Espanha arranjaria alguém da ETA para vir cá fazer o atentado, se tal fosse necessário. Quem paga a operação e a preparação do atentado é a Cia e o Major Canto e Castro. Canto e Castro colabora na altura com os serviços Secretos Franceses, para onde entrou através do sogro na época. O sogro era de Nacionalidade Belga, que trabalhava para a SDEC, os serviços de inteligência franceses, em 1979 e 1980. Canto e Castro casou com uma das suas filhas, quando estava em Luanda, em Angola, ao serviço da Força Aérea Portuguesa. Em Luanda, Canto e Castro vivia perto de mim.

Tendo que organizar esta operação, falo então com José Esteves e mais tarde com Lee Rodrigues ( que na altura ainda não conhecia). O elo de ligação de Lee Rodrigues em Lisboa era Evo Fernandes, que estava ligado à resistência moçambicana, a renamo. Falo nessa altura também com duas pessoas ligadas à ETA militar, para caso do atentado ser realizado através de armas de fogo.

Depois, noutro jantar em casa de Frank Carlucci, na Lapa, na Mansarda, no último andar, onde jantamos os dois sozinhos, Frank Carlucci diz abertamente e pela primeira vez, o que eu tinha de fazer, qual era a operação em curso e que esta visava Adelino Amaro da Costa, que estava a dificultar o transporte e venda de armas a partir de Portugal ou que passavam em Portugal, e que havia luz verde dada por Henry Kissinger e Oliver North. Cumprimento ambos, referindo que sou "o homem deles em Lisboa".

Três semanas antes dos atentado, Canto e Castro e Frank Surgies, referem pela primeira vez, que o alvo do atentado é Adelino Amaro da Costa. O Major Canto e Castro afirma que irá viajar para Londres. Frank Sturgies pede-me que obtenha um cartão de acesso ao aeroporto para um tal Lee Rodrigues, que é referido como sendo a pessoa que levará e colocará a bomba no avião.

Recebo depois um telefonema de Canto e Castro, referindo que está em Londres e para eu ir ter lá com ele. Refere-me que o meu bilhete está numa agência de viagens situada na Av. da Republica , junto à pastelaria Ceuta. Chegado a Londres fico no Hotel Grosvenor, ao pé de Victoria Station. Canto e Castro vai buscar-me e leva-me a uma casa perto do Hotel, onde me mostra pela primeira vez, o material, incluindo explosivos, que servirão para confeccionar a "bomba" nesta operação. Essa casa em Londres, era ao mesmo tempo residência e consultório de um dentista indiano, amigo de Canto e Castro, Canto e Castro refere-me que esse material será levado para Portugal pela sua companheira Juanita Valderrama. O Major Canto e Castro pede-me então que vá ao Hotel Altis recolher o material. Vou então ao Hotel acompanhado de José esteves, e recebemos uma mala e uma carta da senhora Juanita, José Esteves prepara então uma bomba destinada a um avião, com esses materiais, com a ajuda de Carlos Miranda.

O Major Canto e Castro volta depois de Londres, encontra-se comigo, e digo-lhe que a bomba está montada. Lee Rodrigues é-me apresentado pelo Major Canto e Castro. Alguns dias depois Lee Rodrigues telefona-me e encontramo-nos para jantar no restaurante galeto, junto ao Saldanha, juntamente com Canto e Castro, onde aparece também Evo Fernandes, que era o contacto de Lee Rodrigues em Lisboa. Fora Evo Fernandes que apresentara Lee Rodrigues a Canto e Castro. Lee Rofrigues era moçambicano e tinha ligações à Renamo. Nesse jantar alinham-se pormenores sobre o atentado. Canto e Castro refere contudo nesse jantar que o atentado será realizado em Angola. Perante esta afirmação, pergunto se ele está a falar a sério ou a brincar, e se me acha com “cara de palhaço"- fazendo tenção de me levantar. Refiro que, através de Frank Carlueci, já estava a par de tudo. Lee Rodrigues pede calma, referindo depois Canto e Castro que desconhecia que eu já estava a par de tudo, mas que sendo assim nada mais havia a esconder.

Possivelmente em Novembro, é-me solicitado por Philip Snell que participe numa reunião em Cascais, num iate junto á antiga marina (na altura não existia a actual marina). Vou e levo comigo José Esteves. Essa reunião tem lugar entre as 20 e as 23 horas, nela participando Philips Snell, Oliver North, Frank Sturgies, Sydral e Lee Rodrigues e mais cerca de 2 ou 3 estrangeiros, que julgo serem americanos. Nesta reunião é referido que há que preparar com cuidado a operação que será para breve, e falam-se de pormenores a ter em atenção. É referido também os cuidados que devem ser realizados depois da operação, e o que fazer se algo correr mal. A língua utilizada na reunião é o Inglés. José Esteves recebeu então USD 200.000 pelo seu futuro trabalho. Eu não recebi nada pois já era pago normalmente pela CIA. Eu nessa altura recebia da CIA o equivalente a cinco mil dólares, dispondo também de dois cartões de crédito Diner's Club e Visa Gold, ambos com plafonds de 10.000 Dólares.

Lee Rodrigues pede-me então que arranje um cartão para José Esteves entrar no aeroporto.
Para este efeito, obtenho um cartão forjado, na mouraria, em Lisboa, numa tipografia que hoje já não existe. Lee Rodrigues diz-me também que irá obter uma farda de piloto numa loja ao pé do Coliseu, na Rua das Portas de Santo Antão. A meu pedido, João Pedro Dias, que era carteirista, arranja também um cartão para Lee Rodrigues. Este cartão foi obtido por João Pedro Dias, roubando o cartão de Miguel Wahnon, que era funcionário da TAP.

Apenas foi necessário mudar-se a fotografia desse cartão, colocando a fotografia de Lee Rodrigues.

José Esteves prepara então em sua casa no Cacém, um engenho para o atentado. Conta com a colaboração de outro operacional chamado Carlos Miranda, especialista em explosivos, que é recrutado por mim, e que eu já conhecia de Angola, quando Carlos Miranda era comandante da FNLA e depois CODECO em Portugal. José Esteves foi também um dos principais comandantes da FNLA, indo muitas vezes a Kinshasa.

Depois do artefacto estar pronto, vou novamente a Paris. No Hotel Ritz, à tarde, tenho um encontro com Oliver North, o cor. Wilkison e Philip Snell, onde se refere que o alvo a abater era Adelino Amaro da Costa, Ministro da Defesa.

Volto a Portugal, cerca de 5 ou 6 dias antes do atentado. É marcado por Oliver North um jantar no hotel Sheraton. Necesse jantar aparece e participa um indivíduo que não conhecia e que me é apresentado por Oliver North , chamado Penaguião. Penaguião afirma ser segurança pessoal de Sá Carneiro. Oliver North refere que Penaguião faz parte da segurança pessoal de Sá Carneiro e que é o homem que conseguirá meter Sá Carneiro no Avião. Penaguião afirma, de forma fria e directa que sá Carneiro também iria no avião, "pois dessa forma matavam dois coelhos de uma cajadada! " Afirma que a sua eliminação era necessária, uma vez que Sá Carneiro era anti-americano, e apoiava
incondicionalmente Adelino Amaro da Costa na denúncia do trático de armas, e na descoberta do chamado saco azul do Fundo de Defesa do Ultramar, pelo que tudo estava, desde o início, preparado para incluir as duas pessoas. Sá Carneiro e Adelino Amaro da Costa. Fico muito receoso, pois só nesse momento fiquei a conhecer a inclusão de Sá Carneiro no atentado. Pergunto a Penaguião como é que ele pode ter a certeza de que Sá Carneiro irá no avião, ao que Penaguião responde de que eu não me preocupasse pois que ele, com mais alguém, se encarregaria de colocar Sá Carneiro naquele avião naquele dia e naquela hora, pois ele coordenava a segurança e a sua palavra era sempre escutada. No final do jantar, juntam-se a nós três o General Diogo Neto e o Coronel Vinhas.

Fico estarrecido com esta nova informação sobre Sá Carneiro, e decido ir, nessa mesma noite, à residência do embaixador dos EUA, na Lapa, onde estava Frank Carlucci, a quem conto o que ouvi. Frank Carlucci responde que não me preocupasse, pois este plano já estava determinado há muito tempo. Disse-me que o homem dos EUA era Mário Soares, e que Sá Carneiro, devido à sua maneira de ser, teimoso e anti-americano, não servia os interesses estratégicos dos EUA. Mário Soares seria o futuro apoio da política americana em Portugal, junto com outros lideres do PSD e do PS. Aceito então esta situação, uma vez que Frank Carlucci já me havia dito antes que tudo estava assegurado, inclusivamente se algo corresse mal, como a minha saída de Portugal, a cobertura total para mim e para mais alguém que eu indicasse, e que pudesse vir a estar em perigo. Isto é a usual "realpolitik" dos Estados Unidos, e suspeito que sempre será.

Três dias antes do atentado há uma nova reunião, na Rua das Pretas no Palácio Roquete, onde participam Canto e Castro, Farinha Simões, Lee Rodrigues, José Esteves e Carlos Miranda. Carlos Miranda colaborou na montagem do engenho explosivo com José Esteves, tendo ido várias vezes a casa de José Esteves. Nessa reunião são acertados os últimos pormenores do atentado. Nessa reunião, Lee Rodrigues diz que ele está preparado para a operação e Canto e Castro diz que o atentado será a 3 ou 4 de Dezembro. Nessa reunião é dito que o alvo é Adelino Amaro da Costa. No dia seguinte encontramo-nos com Canto e Castro no Hotel Sheraton, e vamos jantar ao restaurante "O Polícia".

No dia 4 de Dezembro, telefono de um telefone no Areeiro, para o Sr. William Hasselberg, na Embaixada dos EUA, para confirmar que o atentado é para realizar, tendo-me este referido que sim. Desse modo, à tarde, José Esteves traz uma mala a minha casa, e vamos os dois para o aeroporto. Conduzo José Esteves ao aeroporto, num BMW do José Esteves.

Já no aeroporto, José Esteves e eu entramos no aeroporto, por uma porta lateral, junto a um posto da Guarda Fiscal, utilizando o cartão forjado, anteriormente referido. Depois José Esteves desloca-se e entrega a mala, com o engenho, a Lee Rodrigues, que aparece com uma farda de piloto e é também visto por mim. Depois de cerca de 15 minutos, sai já sem a mala, e sai comigo do aeroporto. Separamo-nos, mas mais tarde José Esteves encontra-se novamente comigo no cabeleireiro Bacta, no centro comercial Alvalade.

Depois José Esteves aparece em minha casa com a companheira da época, de nome Gina, e com um saco de roupa para lá ficar por precaução. Ouvi-mos depois o noticiário das 20 horas na televisão, e José Esteves fica muito surpreendido, pois não sabia que Sá Carneiro também ia no avião.

Afirma que fomos enganados. Telefona então para Lencastre Bernardo, que tinha grandes ligações à PJ e à PJ Militar, e uma Ligação ao General Eanes, Lencastre Bernardo tem também ligações a Canto e Castro, Pezarat Correia, Charais, ao empresário Zoio a José António Avelar que era ex-braço direito de Canto e Castro. José Esteves telefona-lhe, e pede para se encontrar com ele. Este aceita, pelo que, pelas 23 horas, José Esteves, eu, e a minha mulher Elza, dirigimo-nos para a Rua Gomes Freire, na PJ, para falar com ele. José Esteves sobe para falar com Lencastre Bernardo que lhe tinha dito que não se preocupasse, pois nada lhe sucederia. Passámos contudo por casa de José Esteves pois este temia que aí houvesse já um conjunto de polícias à sua procura, devido a considerarem que ele estava associado à queda do avião em Camarate. José Esteves ficou assim aliviado por verificar que não existia aparato policial à porta de sua casa. Vem contudo dormir para minha casa.

Alguns dias depois falei novamente com Frank Carlucci. A quem manifestei o meu desconhecimento e ter ficado chocado por ter sabido, depois de o avião ter caído, que acompanhantes e familiares do Primeiro Ministro e do Ministro da Defesa também tinham ido no Avião. Frank Carlucci respondeu-me que compreendia a minha posição, mas que também ele desconhecia que iriam outras pessoas no avião, mas que agora já nada se podia fazer.

Em 1981, encontro-me com Victor Pereira, na altura agente da Polícia Judiciaria, no restaurante Galeto, em Lisboa. Conto a Victor Pereira que alguns dos atentados estão atribuídos às Brigadas Revolucionárias, relacionados com a colocação de bombas, foram porém efectuadas pelo José Esteves, como foram os casos dos atentados à bomba na Embaixada de Angola, de Cuba ( esta última com conhecimento de Ramiro Moreira), na casa de Torres Couto, na casa do prof. Diogo Freitas do Amaral, na casa do Eng. Lopes Cardoso, e na casa de Vasco Montez, a pedido deste, junto ao Jumbo em Cascais, para obter sensacionalismo à época, tendo José Esteves espalhado panfletos iguais aos da FP25. Não falei então com Victor Pereira de camarate. Tomei conhecimento no entanto que Victor Pereira, no dia 4 de Dezembro de 1980, tendo ido nessa noite ao aeroporto da Portela, como agente da PJ, encontrou a mala que era transportada pelo eng. Adelino Amaro da Costa. Nessa mala estavam documentos referentes ao tráfico de armas e de pessoas envolvidas com o Fundo de defesa do Ultramar. Salvo erro, Victor Pereira entregou essa mala ao inspector da PJ Pedro Amaral, que por sua vez a entregou na PJ. Disse-me então Victor Pereira que essa mala, de maior importância no caso de Camarate, pelas informações que continha, e que podiam explicar os motivos e as pessoas por detrás deste atentado, nunca mais voltou a aparecer. Esta informação foi-me transmitida por Victor Pereira, quando esteve preso comigo na prisão de Sintra, em 1986. Não referi então a Victor Pereira que, como descrevo a seguir, eu tinha já tido contacto com essa mala, em finais de 1982, pelo facto de trabalhar com os serviços secretos na Embaixada dos EUA.

Também em 1981, uns meses depois do atentado, eu e o José Esteves fomos ter com o Major Lencastre Bernardo, na Polícia Judiciária, na Rua Gomes Freire. Com efeito, tanto o José Esteves como eu, andávamos com medo do que nos podia suceder por causa do nosso envolvimento no atentado de Camarate, e queríamos saber o que se passava com a nossa protecção por causa de Camarate. Eu não participo na reunião, fico à porta. Contudo José Esteves diz-me depois que nessa conversa Lencastre Bernardo lhe referiu que, numa anterior conversa com Francisco Pinto Balsemão, este lhe havia dito ter tido conhecimento prévio do atentado de Camarate, pois em Outubro de 1980, Kissinger o informou de que essa operação ia ocorrer. Disse-lhe também que ele próprio tinha tido conhecimento prévio do atentado de Camarate. Disse-lhe ainda que podíamos estar sossegados quanto a Camarate, pois não ia haver problemas connosco, pois a investigação deste caso ia morrer sem consequências.

A este respeito gostaria de acrescentar que numa reunião que tive, a sós, em 1986, com Lencastre Bernardo, num restaurante ao pé do edifício da PJ na Rua Gomes Freire, ele garantiu-me que Pinto Balsemão estava a par do que se ia passar em 4 de Dezembro. No restaurante Fouchet's, em Paris, Kissinger tinha-me dito, “por alto”, que o futuro Primeiro Ministro de Portugal seria pinto Balsemão. E importante referir que tanto Henry Kissinger como Pinto Balsemão eram já, em 1980, membros destacados do grupo Bilderberg, sendo certo que estas duas pessoas levavam convidados às reuniões anuais desta organização.
Deste modo, aquando da conversa com Lencastre Bernardo, em 1986, relacionei o que ele me disse sobre Pinto Balsemão, com o que tinha ouvido em Paris, em 1980. Tive também esta informação, mais tarde, em 1993, numa conversa que tive com William Hasselberg, em Lisboa, quando este me confirmou de que Pinto Balsemão estava a par de tudo.

Em finais de 1982, pelas informações que vou obtendo na Embaixada dos EUA, em Lisboa, verifico que se fala de nomes concretos de personalidades americanas com tendo estado envolvidas em tráfico de armas que passava por Portugal. Pergunto então a William Hasselberg como sabem destes nomes. Ao fim de muitas insistências minhas, William Hasselberg acaba por me dizer que a Pj entregou, na embaixada dos EUA, uma mala com os documentos transportados por Adelino Amaro da Costa, em 4 de Dezembro de 1980, e que ficou junto aos destroços do avião, embora não me tenha dito quem foi a pessoa da PJ que entregou esses documentos. Peço então a William Hasselberg que me deixe consultar essa mala, uma vez que faço também parte da equipa da CIA em Portugal. Ele aceita, e pude assim consultar os documentos aí existentes. que consistiam em cerca de 200 páginas. Pude assim consultar este Dossier durante cerca de uma semana, tendo-o lido várias vezes, e resumido, à mão, as principais partes, uma vez que não tinha como fotografa-lo ou copia-lo.

Vejo então, que apesar do desastre do avião, e da pasta de Avelino Amaro da Costa ter ficado queimada, e ter sido substituida por outra, os documentos estavam intactos. Estes documentos continham uma lista de compra de armas, que incluia nomeadamente RPG-7, RPG-27, G3, lança granadas, dilagramas, munições, granadas, minas, rádios, explosivos de plástico, fardas, kalashiskovs AK-47 e obuses. Referia-se também nesses documentos que para se iludir as pistas, as vendas ilegais de armas eram feitas através de empresas de fachada, com os caixotes a referir que a carga se tratava de equipamentos técnicos, e peças sobresselentes para maquinas agrícolas e para a construção civil. Esta forma de transportar armas foi-me confirmada várias vezes por Oliver North, no decorrer da década de 80, até 1988, e quando estive em Ilopango, no El Salvador, também na década de 80, verifiquei que era verdade.

Nestes documentos lembro-me de ver que algumas armas vinham da empresa portuguesa Braço de Prata, bem como referências de vendas de armas de Portugal e de países de Leste, como a Polónia e a Bulgária, com destino para a Nicarágua, Irão, El Salvador, Colombia, Panamá, bem como para alguns países Africanos que estavam em guerra, como Angola, ANC da África do Sul, Nigéria, Mali, Zimbawe, Quénia, Somália, Líbia, etc. Está também claramente referido nesses documentos que a venda de armas é feita através da empresa criada em Portugal chamada "Supermarket" (que operava através da empresa mãe "Black - Eagle").

Nos referidos documentos ví também que as vendas de armas eram legais através de empresas portuguesas, mas também havia vendas de armas ilegais feitas por empresas de fachada, com a lavagem de dinheiro em bancos suíços e "off-shores" em nome dos detentores das contas, tanto pessoas civis como militares.

As vendas ilegais de armas ocorriam por várias razões, nomeadamente: Em primeiro lugar muitos dos países de destino, tinham oficialmente sanções e embargos de armas. Em segundo lugar os EUA não queriam oficialmente apoiar ou vender armas a certos países, nomeadamente aos contra da Nicarágua, ou ao Irão e ao Iraque, a quem vendiam armas ao mesmo tempo, e sem conhecimento de ambos. Em terceiro lugar a venda de armas ilegal é mais rentável e foge aos impostos. Em quanto lugar a venda de armas ilegal permite o branqueamento de capitais, que depois podiam ser aproveitados para outros fins.

Entre os nomes que vi referidos nestes documentos figuravam:

- José Avelino Avelar
- Coronel Vinhas
- General Diogo Neto
- Major Canto e Castro
- Empresário Zoio
- General Pezarat Correia
- General Franco Charais
- General Costa Gomes
- Major Lencastre Bernardo
- Coronel Robocho Vaz
- Francisco Pinto Balsemão

Francisco Balsemão e Lencastre Bernardo eram referidos como elementos de ligação ao grupo Bildeberg e a Henry Kissinger, Francisco Balsemão pertence também à loja maçónica "Pilgrim", que é anglo-saxónica, e dependente do grupo Bildeberg. Lencastre Bernardo tinha também assinalada a sua ligação a alguns serviços de inteligência, visto ele ser, nos anos 80, o coordenador na PJ e na Polícia Judiciária Militar.


Entre as empresas Portuguesas que realizavam as vendas de armas atrás referidas, entre os anos 1974 e 1980, estavam referidas neste Dossier:

- Fundição de Oeiras (morteiros, obuses e granadas)
- Cometna (engenhos explosivos e bombas)
- OGMA (Oficinas Gerais Militares de Fardamento e OGFE (Oficinas de Fardamento do Exercito)
- Browning Viana S.A.
- A. Paukner Lda, que existe desde 1966
- Explosivos da trafaria
- SPEL (Explosivos)
- INDEP (armamento ligeiro e munições)
- Montagrex Lda, que actuava desde 1977, com Canto e Castro e António José Avelar. Só foi contudo oficialmente constituida em 1984, deixando, nessa altura, Canto e Castro de fora, para não o comprometer com a operação de Camarate. A Montagrex Lda operava no Campo Pequeno, e era liderada por António Avelar que era o braço direito de Canto e Castro e também sócio dessa empresa. O escritório dessa empresa no Campo Pequeno é um autentico “bunker", com portas blindadas, sensores, alarmes, códigos nas portas, etc.

Canto e Castro e António Avelar são também sócios da empresa inglesa BAE - Systems, sediada no Reino Unido. Esta empresa vede sistemas de defesa, artilharia, mísseis, munições, armas submarinas, minas e sobretudo sistemas de defesa anti-mísseis para barcos.

Todos estes negócios eram feitos, na sua maior parte, por ajuste directo, através de brokers - intermediários, que recebiam as suas comissões, pagas por oficiais do Exército, Marinha, Aeronáutica, etc.

Nestes documentos era referido que, como consequência desta vendas de armas, gerava-se um fluxo considerável de dinheiro, a partir destas exportações, legais e ilegais. Estes documentos referiam também a quem eram vendidas estas armas, sobretudo a países em guerra, ou ligados ao terrorismo internacional. Era também referido que todas estas vendas de armas eram feitas com a conivência da autoridade da época, nomeadamente militares como o General Costa Gomes, o General Rosa Coutinho (venda de armas a Angola) e o próprio Major Otelo Saraiva de Carvalho ( venda de armas a Moçambique). Vi várias vezes o nome de Rosa Coutinho nestes documentos, que nas vendas de armas para Angola utilizava como intermediário o general reformado angolano, José Pedro Castro, bastante ligado ao MPLA, que hoje dispõe de uma fortuna avaliada em mais de 500 milhões de USD, e que dividia o seu tempo entre Angola, Portugal e Paris. O seu filho, Bruno Castro é director adjunto do Banco BIC em Angola.

No referido dossier estavam também referidos outros militares envolvidos neste negócio de armas, nomeadamente o Capitão Dinis de Almeida, o Coronel Corvacho, o Vera Gomes e Carlos Fabião.

Todas estas pessoas obtinham lucros fabulosos com estes negócios, muitas vezes mesmo antes do 25 de Abril de 1974 e até 1980. Era referido que estas pessoas, nomeadamente militares, que ajudavam nesta venda de armas, beneficiavam através de comissões que recebiam. Estavam referidos neste Dossier os nomes de "off-shores", que eram usadas para pagar comissões às pessoas atrás referidas e a outros estrangeiros, por Oliver North ou por outros enviados da CIA. Estas "off-shores" detinham contas bancárias, sempre numeradas.

Esta referência batia certo com o que Oliver north sempre me contou, de que o negócio das armas se proporciona através de "off-shores" e bancos controlados para a lavagem de dinheiro.

Vale a pena a este respeito referir que no negócio das armas, empresas do sector das obras públicas aparecem frequentemente associadas, como a Haliburton, a Carlyle, ou a Blackwater, (empresa de armas, construção e mercenários), entre outras. Esta relação está referida, há anos, em vários relatórios, nomeadamente nos relatórios do Bribe Payer Index (indice internacional dos pagadores de subornos), que é uma agencia americana. A indicação deste tipo de práticas foi desenvolvida mais tarde, pela Transparency International e pelo Comité Norte Americanos de Coordenação e Promoção do Comercio do Senado Americano, que referem que há muitos anos , mais de 50% do negócio e comercio de armas em Portugal, é feito através de subornos. Os americanos sempre usaram Portugal para o tráfico de armas, fazendo também funcionar a Base das Lajes, nos Açores, para este efeito, nomeadamente depois de 1973, aquando da guerra do Yom Kippur, entre Israel e os países árabes. Este tráfico de armas deu origem a várias contrapartidas financeiras, nomeadamente através da FLAD, que foi usada pela CIA para este efeito. A FLAD recebeu diversos fundos específicos para a requalificação de recursos humanos.

Não ví contudo neste Dossier observações referindo referindo que estas vendas de armas eram condenáveis ou que tinham efeitos negativos. Havia contudo uma pequena nota, em que algumas folhas de que se devia tomar cuidade com tudo o que aí estava escrito, e que portanto se devia actuar. Havia também na primeira página um carimbo que dizia "confidentical and restricted".

Estas vendas de armas continuaram contudo depois de 1980. Tanto quanto eu sei, estas vendas de armas continuaram a ser realizadas até 2004, embora com um abrandamento importante a partir de 1984, a partir do escândalo das fardas vendidas à Polónia.

No referido Dossier estavam também referidas personalidades americanas envolvidas no negócio de armas, nomeadamente Bush (Pai), dick Cheney, Frank Carlucci, Donald Gregg, vários militares, bem como a empresas como a Blackwater. são ainda referidas empresas ligadas aos EUA, como a Carlyle, Haliburton, Black Eagle Enterprise, etc, que estavam a usar Portugal para os seus fins, tanto pela passagem de armas através de portos portugueses, como pelo fornecimento de armas a partir de empresas portuguesas. Tirei apontamentos desses documentos, que ainda hoje tenho em meu poder.

A empresa atrás referida, denominada supermarket, foi criada em Portugal em 1978, e operava através da empresa mão, de nome Black-Eagle, dirigida por William Casey, (membro do CFR(counceil for Foreign Affairs and Relations), ex-embaixador dos EUA nas Honduras e também com ligações à CIA). A empresa supermarker organizava a compra de armas de fabrico soviético, através de Portugal, bem como a compra de armas e munições portuguesas, referidas anteriormente, com toda a cumplicidade de Oliver North. Estas armas iam para entrepostos nas Honduras, antes de serem enviadas para os seus destinos finais. Oliver North pagou muitas facturas destas compras em Portugal, através de uma empresa chamada Gretsh World, que servia de fachada à Supermarket. Mais tarde, cerca de 1985, quando se começou muito a falar de camarate, Oliver North cancelou a operação "Supermarket, e fechou todas as contas bancárias.

Devo ainda referir que William Hasselberg e outros americanos da embaixada dos EUA, em Lisboa, comentaram comigo, várias vezes o que estava escrito neste Dossier.
Relativamente a Hasselberg isso era lógico, pois foi ele que me deu o Dossier a ler.
Posteriormente comentei também o que estava escrito neste Dossier com Frank Carlucci, que obviamente já tinha conhecimento da informação nele contida.

Tanto William Hasselberg, como membro da CIA, como outros elementos da CIA atrás referidos e outros, comentaram várias vezes comigo o envolvimento da CIA na operação de Camarate e neste negócio de armas. Lembro-me nomeadamente que quando alguém da CIA, me apresentava a outro elemento da Cia, dizia frequentemente "this is the portuguese guy, the one from Camarate, the case in Portugal with the plane!".

As vendas de armas, a partir e através de Portugal, foram realizadas ao longo desses anos, pois era do interesse político dos EUA. A CIA organizou e implementou estas vendas de armas em Portugal, à semelhança do que sucedeu noutros países, pois era crucial para os EUA que certas armas chegassem aos países referidos, de forma não oficial, tendo para isso utilizados militares e empresários Portugueses, que acabaram também por beneficiar dessas vendas.

Como anteriormente referi, William Casei e Oliver North estavam, nas décadas de 70 e 80 conluiados com o presidente Manuel Noriega, no escândalo Irão - contras (Irangate). Foi sempre Oliver North que se ocupou da questão dos reféns americanos no Irão, bem como da situação da América Central. Recebeu pessoalmente por isso uma carta de agradecimentos de George Bush Pai, Vice Presidente à época de Ronald Reagan.


Devo dizer a este respeito que John Bush, filho de Bush Pai, então com 35 anos, a fiver na Flórida, pertencia em 1979 e 1980 ao “Condado de Dade", que era e é uma organização republicana, situada em South Florida, destinada a angariar fundos para as campanhas eleitorais republicanas. John Bush era um dos organizadores de apoios financeiros para os "contra" da Nicarágua.

Conheci também Monzer Al Kasser um grande traficante de armas que tinha uma casa em Puerto Banus em Marbella, e que me foi apresentado, em Paris, por Oliver North, em 1979.
Era um dos grandes vendedores de armas para os “Contra” na Nicarágua, trabalhando simultaneamente para os serviços secretos sírios, búlgaros e polacos. Na sua casa em Marbella, referiu-me também que, por vezes, o tráfico de armas era feito através de África, para que no Iraque não se apercebessem da sua proveniência, pois também vendiam ao mesmo tempo ao Irão e mesmo a Portugal. Este tráfico de armas, que estava em curso, desde há vários anos, em 1980, e o começo do caso Camarate.

Através de Al Kasser conheci, em Marbella, no final de 1981, outro famoso traficante de armas, numa festa em casa de Monzer, que se chamava Adrian Kashogi. Kashogi, como pude testemunhar em sua casa, tinha relações com políticos e empresários europeus, árabes e africanos, por regra ligados ao tráfico de armas e drogas.

Sou preso em 1986, acusado de tráfico de drogas. Esta prisão foi uma armadilha montada pela DEA, por elementos que nessa organização não gostavam de mim, por eu ter levado à detenção de alguns deles, como referi anteriormente. Fui então levado para a prisão de Sintra. Estou na prisão com o Victor Pereira,, que aí também estava preso. Sei, em 1986, que estavam a preparar para me eliminar na prisão, pelo que peço à minha mulher Elza, para ir falar, logo que possível com Frank Carlucci. Em consequência disso recebo na prisão a visita de um agente da CIA, chamado Carlston, juntamente com outro americano. estes, depois de terem corrompido a direcção da prisão, incluindo o director, sub-director e chefe da guarda, bem como um elemento que se reformou muito recentemente, da Direcção Geral dos serviços Prisionais, chamada Maria José de Matos, conseguem a minha fuga da prisão. Contribui ainda para esta minha fuga, mediante o recebimento de uma verba elevada, paga pelos referidos agentes americanos esta directora-adjunta da Direcção Geral dos serviços Prisionais. Estes agentes americanos obtêm depois um helicóptero, que me transporta para a Lousã, onde fico cerca de 20 dias. Vou depois para Madrid, com a ajuda dos americanos, e depois daí ara o Brasil. as despesas com a minha fuga da prisão custaram 25000 euros, o que na época era uma quantia elevada.

Só mais tarde no Brasil, depois de 1986, é que referi a José Esteves que sabia que Sá Carneiro ia no avião, contando-lhe a história toda. José Esteves, responde então, que nesse caso, tinha-mos corrido um grande risco. Eu tranquilizei-o, referindo que sempre o apoiei e protegi neste atentado. Dei-lhe apoio no Brasil no que pude. Assegurei-lhe também o transporte para o Brasil, obtendo-lhe um passaporte no Governo Civil de lisboa, entreguei-lhe 750 contos que me foram dados para esse efeito pela embaixada dos EUA, em Lisboa, e arranjei-lhe o bilhete de avião de Madrid para o Rio de Janeiro . Na viagem de Lisboa para Madrid, José Esteves foi levado por Victor Moura, um amigo comum. No Rio de Janeiro ajudei-o a montar uma loja, numa roulote. Como trabalhava ainda para a embaixada dos EUA, em Lisboa, estas despesas foram suportadas pela Embaixada. Ficou no Brasil cerca de dois anos. Eu, contudo andava constantemente em viagem.


José Esteves recebe depois um telefonema de Francisco Pessoa de Portugal, onde Francisco Pessoa o aconselha a voltar a Portugal, e a pedir protecção, a troco de ir depor na Comissão de Inquérito Parlamentar sobre Camarate. Esse telefonema foi gravado, mas José Esteves nunca chegou a obter uma protecção formal.

Telefono a Frank Carlucci, em 1987, pedindo-lhe para falar com ele pessoalmente. Ele aceita, pelo que viajo do Brasil, via Miami, para Washington. Pergunto-lhe então, em face do que se tinha falado de Camarate, qual seria a minha situação, se corria perigo por causa de Camarate, e se continuarei, ou não a trabalhar para a CIA. Frank Carlucci responde-me que sim, que continuarei a trabalhar para a CIA, tendo efectivamente continuado a ser pago pela CIA até 1989. Frank Carlucci confirma nessa reunião que puderam contar com a colaboração de Penaguião na operação de Camarate, e que ele, Frank Carlucci, esteve a par dessa participação.

Em 1994, foi-me novamente montada uma armadilha em Portugal, por agentes da DEA que não gostavam de mim, por causa da referida prisão de agentes seus, denunciados por mim. Nesta armadilha participam também três agentes da DCITE - Portuguesa, os hoje inspectores Tomé, Sintra e Teófilo Santiago. Depois desta detenção, recebo a visita na prisão de Caxias de dois procuradores do Ministério Público, um deles, se não estou em erro, chamado Fernando Ventura, enviados por Cunha Rodrigues, então Procurador Geral da República. Estes procuradores referem-me que me podem ajudar no processo de droga de que sou acusado, desde que eu me mantenha calado sobre o caso Camarate.

Por ser verdade. e por entender que chegou o momento de contar todo o meu envolvimento na operação de Camarate, em 4 de Dezembro de 1980, decidi realizar a presente Declaração, por livre vontade. Não podendo já alterar a minha participação nesta operação,
que na altura estava longe de poder imaginar as trágicas consequências que teria para os familiares das vítimas e para o país, pude agora, ao menos, contar toda a verdade, para que fique para a História, e para que nomeadamente os portugueses possam dela ter pleno conhecimento.

Não quero, por ultimo, deixar de agradecer à minha mãe, à minha mulher Elza Simões, que ao longo destes mais de 35 anos, tanto nos bons como nos maus momentos, sempre esteve a meu lado, suportando de forma extraordinária, todas as dificuldades, ausências, e faltas de dedicaçâo à família que a minha profissão implicava. Só uma grande mulher e um grande amor a mim tornaram possível este comportamento. Quero também agradecer à minha filha Eliana, que sempre soube aceitar as consequências que para si representavam a minha vida profissional, nunca tendo deixado de ser carinhosa comigo. Finalmente quero agradecer à minha mão que, ao longo de toda a minha vida me acarinhou e encorajou, apesar de nem sempre concordar com as minhas opções de vida. A natureza da sua ajuda e apoio, tiveram para mim uma importância excepcional, sem, as quais não teria conseguido prosseguir, em muitos momentos da minha vida. Posso assim afirmar que tive sempre o apoio de uma família excepcional, que foi para mim decisiva nos bons e maus momentos da minha vida.

Lisboa, 26 de Março de 2012
Fernando Farinha Simões
B.I. n.º 7540306

MrNet em 2011

Viver neste cenário de espiral descontrolada da economia e gerir uma empresa é de doidos. Estou cansado pelos telejornais, políticos, da cassete dos partidos de esquerda e sindicatos, da falta de visão e senso generalizada. Parar de lutar não é uma opção, preciso de ganhar a vida, de manter a minha empresa lucrativa, de inventar negócio e manter pessoas satisfeitas com os resultados. Não é tarefa fácil. Mas não é algo de que possa fugir, pelo que arregaço as mangas e trabalho...

O primeiro semestre deste anos correu bem. Aqui estou eu para o segundo. Tudo indica que ainda não é desta que a empresa implode ou explode. Há trabalho e mercado, tudo indica que cá estaremos para 2012. São 12 anos de sobrevivência, com muitas crises pelo meio, vigarices e calotes de muitos clientes, e sobrevivemos com as contas muitas vezes no vermelho, quase sempre no amarelo e raramente no verde. Essa ideia de que ser dono de empresas equivale a ter uma vida desafogada e isenta de preocupações é completamente desajustada da realidade.

Nunca a Mr.Net trabalhou tão bem. A evolução da qualidade do nosso trabalho é notável. Aprendemos com os erros, somos capazes de nos superar em termos criativos e de resolver problemas que parecem “impossíveis” a favor dos nossos clientes. No primeiro trimestre deste ano fizemos um novo portal para a Câmara Municipal de Lisboa, um novo site para a Tap, participámos em projectos do novo “middleware” do cartão do cidadão e fizemos um portal para a associação de estudantes do IST. Pelo meio ainda houve tempo para uns meses de consultoria à Sonae e ajudar a estabelecer os alicerces de estratégias para as futuras actividades do grupo online. Nada mau, no contexto de pequena empresa, para os primeiros meses de um ano complicado.

Todo este trabalho implicou muitos fins de semana e feriados a trabalhar, muitos dias que se prolongam noite dentro, uma dedicação e espírito de missão impares. É esse o preço de ter escapado à crise. Trabalhar desalmadamente. Procurar trabalhar “melhor”. Lutar até ao limite da resistência de todos em prol de quem nos assegura estabilidade financeira.

Crise de 2011 (Parte 2)

Portugal bateu no fundo, ou está anunciado que vai bater, ou está a bater. A Moodys classificou a divida do estado português como “lixo”, o primeiro ministro sentiu isso como um murro no estômago, o Facebook explodiu com grupos a propor “mandar a Moodys à merda”, “enviar lixo para a Moodys”, fazer um denial of service ao site deles, etc.

Pessoalmente confesso que tenho “um problema” com esta história de classificar a divida do estado Português como “lixo”... esse “problema” consiste em eu achar que é mesmo “lixo”. É um problema tramado.

Tenho muita dificuldade em entender como é que o nosso estado achou que podia ter um défice orçamental durante décadas consecutivas, chegando ao limite de a divida ser maior que o PIB anual, sem que isso fosse, mais tarde ou mais cedo, uma divida que custaria a pagar...

Já escrevi em tempos que somos uma nação apaixonada por ideais sociais que não temos dinheiro para pagar... eu também acho (faz de conta) que seria óptimo ter um estado com recursos capaz de corrigir todos os problemas da sociedade, capaz de garantir saúde, educação, igualdade de oportunidades e segurança a todos. Acontece que, não tendo dinheiro para tudo isso, há que escolher de forma racional o que se consegue pagar. Temos uma constituição socialista e utópica, escrita a pensar numa realidade que decididamente não é aquele em que vivemos.

O problema já seria mau se o estado (que não produz riqueza nenhuma) se limitasse a gastar mal o dinheiro que arrecada (em impostos, que são a única fonte de rendimento do estado, não há mesmo galinhas de ovos de oiro escondidas na casa da meda!). Vai mais longe, gasta mais dinheiro que o que arrecada, há décadas. Neste momento já não consegue pagar as prestações do que deve, e dado o total desnorte estratégico, quem empresta dinheiro exige juros elevados inerentes ao risco mais elevado de incumprimento.

Voltamos à Moodys: é paga pelos próprios estados, autarquias e empresas, para avaliar o risco de investimento... durante 15 anos classificou o estado Português ao mesmo nível que a Alemanha (daí década e meia de juros baixos, a explosão de compras de casas, crédito ao consumo, etc). Foi um erro grosseiro de avaliação. Foram completamente incapazes de avaliar os investimentos que levaram ao rebentar da bolha do “subprime” norte americano. um segundo erro grosseiro. Actualmente parecem ser bastante mais conservadores na avaliação de risco... tenho alguma dificuldade em classificar isso como um “terceiro erro grosseiro”. Pelo menos não é na mesma linha...

É complicada a relação entre agencias de rating e os seus clientes. Naturalmente os clientes não gostam de ser avaliados como “um produto de risco” para os investidores. O motivo porque as agências de rating não perderem todos os clientes que avaliam como “investimentos de risco” é a necessidade de uma classificação de agencias de rating para contrair empréstimos no mercado. Ora, quando esse rating é “muito mau”, de facto não vale a pena nem contratar as agências, nem tentar ir ao mercado, e a culpa não é nem das agências nem de especuladores (os maus da fita para os Portugueses). É para estes casos que serve o FMI/BCE, e os respectivos planos de resgate, acompanhados de medidas que permitam diminuir o risco de incumprimento (igualmente vistos como uns senhores terríveis que nos querem explorar e fazer mal). Temos todos 11 anos e somos estúpidos? Parece... A começar pela nossa comunicação social...

Portugal continua a ir ao mercado regularmente e a pagar juros absurdos. Isto é um disparate absoluto. Acontece com regularidade. A alternativa é parar de pagar contas. Mudar as leis necessárias, despedir pessoas, fechar escolas e hospitais, cortar com os todos os apoios sociais que não temos dinheiro para pagar. Isto porque a prosseguir por este caminho estamos a caminhar para o colapso total, e aí não é cortar excedentes que não podemos pagar, é perder tudo em bloco num futuro próximo.

Ah, “isso não pode ser”, pensam alguns. Pode e deve, digo eu. É que a alternativa é muito pior, e consiste em ir aumentado impostos, estrangulando a economia, destruindo precisamente o que gera riqueza nesta país, que são as empresas. Esse é o grande erro, estratégico e mortal, que está a ser cometido. Essa tentativa de “equilíbrio” entre “cortar na despesa e aumentar a receita” é uma solução francamente coxa, que vai debilitar a economia real, gerando na prática menos receita, tornando o país pouco interessante para investimentos, e criando todas as condições para uma economia recessiva.

Há duas hipóteses, que não são mutuamente exclusivas, ambas desagradáveis e com consequências diferentes: “cortar na despesa” (i.e. gastar menos dinheiro) e “aumentar a receita” (i.e. ir buscar mais dinheiro” em impostos a particulares e empresas). Vejo pouco das primeiras e demasiado das segundas. O problema é que “mais impostos” é que significam menor fôlego das empresas, menos emprego e uma economia menos competitiva. Cortar a sério “na despesa” significa menos “quadros no estado”, menos serviços financiados (menos saúde, menos educação, menos segurança, menos protecção social), menos subsídios.

Eu devo ser o único português (ou um dos poucos) que acha que se deviam mudar as leis, acabar com uma legislação laboral absolutamente desadequada à realidade em que vivemos, cortar a sério na despesa e dar a volta ao texto reduzindo a máquina estatal até ao limite da receita real (depois de descontados os valores das prestações devidas). Para salvar o barco é necessário sacrificar alguns dos tripulantes? Seja. Dramático como é, antes isso que deixar o barco afundar e perder tudo. Antes isso que sacrificar a economia real que alimenta o monstro que é a máquina estatal.

Tenho a estranha impressão que os nossos governantes não entendem a lição simples das ultimas décadas: “não podem gastar mais que o que recebem”. Precisam de pagar o que já pediram empresado. Está na hora de cortarem nos brilharetes, nas inaugurações, nos projectos megalómanos, e... gastarem apenas o que existe, sem se endividarem mais, amortizando as dividas existentes.

Não podem “cortar na despesa” porque não podem despedir pessoas? Claro que podem! Mudem as leis, é para isso que são eleitos, para isso que existe uma assembleia da república. Se continuarem a apertar com a receita... bom, desconfio que teremos uns anos de agonia e extrema fragilidade pela frente. Não acredito que se possa competir a partir de Portugal com impostos desproporcionalmente elevados. Pelo menos não nos sectores primário e secundário...

Estão a dar marteladas nos dedos dos pés para sentir o alivio dos intervalos. É literalmente o que significa este tímido corte na despesa (sem resolver os problemas endémicos), acompanhado pela maior carga fiscal de sempre. Sentem o alivio temporário no balancete do estado? Óptimo, preparem-se para a martelada seguinte. Isto vai doer...

Crise de 2011 (Parte 1)

Chegou o ano de todos os perigos, uma angustia anunciada e repetida várias vezes por dia nas televisões, rádios e jornais. Impostos, desemprego, recessão, pessimismo. O mais optimista dos mortais é contagiado por esta onda de fatalismo. Qual o antídoto para tudo isto? Trabalho, coragem, imaginação e inteligência (não necessariamente por esta ordem). Um bocadinho de sorte também ajuda.

O meu primeiro trimestre foi bom. Muito bom. Trabalhei como um doido, eu e todas as pessoas que estão na MrNet, mas 2011 começou da melhor forma. Agora é planear cuidadosamente a segunda metade do ano. Escolher os desafios certos, conseguir cumprir com os que aceitar.

Portugal infelizmente está em pior estado que a MrNet. Olho à minha volta e vejo um pais de putos mimados, à espera que alguma coisa lhes caia no colo, e cheios de exigências. Dizem-se à rasca. E a culpa é "dos mais velhos", que tiveram toda a sorte do mundo... não tiveram. A "sorte" da maioria deles deu muito trabalho.

Temos um país colectivista, sindicalizado, endividado, com uma paixão por ideais socialistas e sem dinheiro para pagar esse amor todo. Está na hora se as pessoas individualmente assumirem uma postura diferente, arregaçarem as mangas e fazerem muito mais e muito melhor. Não é o momento para choramingues e mariquinhas. Precisamos de bons lideres, de pessoas com força e vontade de trabalhar, de resolver os problemas que nos são mais próximos, um de cada vez.

Do estado Português só queria juízo e bom senso. Não vamos ter nenhum dos dois. Não vai acontecer. Vão gastar tudo o que arrecadarem em impostos e todo o dinheiro a crédito que conseguirem. A classe política, que é parte do problema e não da solução, com a habilidosa "democracia indirecta" (i.e. só podem votar máquinas partidárias) é um regime viciado. A menos que pertençam a um partido político "oficial", ou a um dos grupos de poder "oficiosos" (Maçonaria e Opus dei), estão "fora desse jogo". A classe dominante está estabelecida. São os "porcos" do "animal farm". Podem escolher a cor, sexo e feitio, do vosso "porco" favorito, um voto por pessoa.

As pessoas devem concentrar esforços a resolver problemas "mais pequenos", ao nível de empresas e comunidades em que se integram, gerar dinheiro e poder a esse nível. Os problemas "nacionais" e "europeus" estão longe de poder ser resolvidos pelo comum cidadão. Esse "jogo" é para "outros jogadores", o vosso papel nele é só pagar impostos e votar.

Bom 2011 para todos. Votos de que dispensem menos atenção ao estado, vejam menos telejornais, abram os olhos para realidades que estão mais próximas e nas quais podem fazer toda a diferença.