Paulo Laureano Estar vivo é uma condição precária com um péssimo prognóstico...

Este nosso Portugal

Vivemos num país complicado. Governos (sucessivos do PSD e PS) que gastam mais dinheiro do que cobram em impostos, pessoas assumem que adquiriram uma série de direitos e privilégios e não os querem perder mesmo que não exista dinheiro para os pagar, com um mercado em que “aldrabões” e “lobbies” me parecem francamente determinantes para o sucesso.

Para quem ainda não percebeu: o estado português gasta dinheiro em excesso. Mais que o que cobra em impostos. Para suportar esta prática (nos últimos 30 anos) recorreu sucessivamente a crédito para financiar o défice (i.e. a diferença entre o que arrecada em impostos e o que gasta). Chegou a altura de pagar as contas e travar o processo de endividamento. Quem nos empresa dinheiro acha que somos um cliente de risco e, consequentemente, cobra juros demasiado elevados para ser praticável viver da mesma forma (acima das nossas possibilidades) por mais tempo.

Vendam as reservas de ouro (e tudo o que for necessário) e paguem as dividas. Ganhem juízo e bom senso e passem a gerir o pais com os meios de que dispõem (e não a crédito). Se não há meios para pagar “tanto estado”, tanto conforto e segurança, precisamos de o “reduzir”. Isso implica menos protecção social. Significa menos serviços “subsidiados”. Significa que se fazemos estradas temos que pagar por elas. Significa que é uma boa ideia as pessoas que podem passem a pagar pelos cuidados médicos recorrendo a hospitais privados. Significa que educar as crianças é caro e é preciso acabar com utopias como o “gratuito” constitucional. O que não podemos é “querer o bolo e comer ao mesmo tempo”, querer os benefícios e protecção e não ter como pagar por ambos.

A nossa legislação laboral é uma merda. É complicado despedir quem não trabalha, ou trabalha mal, e dar oportunidades a quem quer trabalhar. Cair no desemprego é uma situação muito complicada, em particular para malta com mais de 40 anos. Salvar empresas quando há dificuldades é uma missão muito complicada, porque despedir parte das pessoas para salvar os postos de trabalho dos que ficarem é excessivamente caro. Arriscar meter pessoal quando há mais trabalho é por isso um processo mais “lento” e “substancialmente mais arriscado” do que deveria ser.

Estamos no final da linha. Na hora da verdade. Durante décadas fizemos legislação que tem consequências que não temos dinheiro para pagar. Muito bonita, muito humana, infelizmente muito falida, utópica e insustentável. Os nossos políticos lembram-me o “triunfo dos porcos”. Os meus compatriotas parecem adormecidos, incapazes de lidar com o pesadelo que é a actual situação do país, como se o problema “não fosse deles”, como se a solução não tivesse forçosamente que passar por eles. Que bando de “Lemmings”. Estão tão entretidos a reclamar “a perda óbvia” de privilégios, conforto e segurança, que se esquecem de que tudo isso tem um preço e acontece que não temos dinheiro para o pagar.

A solução é pagar as dividas, viver com o que temos, parar com este carrossel de disparates sucessivos. Já há demasiadas contas por pagar... Ah! A cereja no topo do bolo é que o resto da Europa caminha para a mesma situação. Está tudo maluco, toda a gente a imaginar que há galinhas de ovos de ouro escondidas nas bancadas dos parlamentos ou nos ministérios das finanças, à espera de milagres de algum Deus imaginário vai aparecer e pagar as contas.

Miséria... mesmo ao lado...

Estava eu a tomar o belo do lanche entrou um puto (vinte e poucos anos é o meu melhor palpite) no café a pedir a alguém que lhe comprasse uma revista "CAIS" ou lhe pagasse qualquer coisa para comer. Quando passou pela minha mesa fiz um sinal de quem não lhe ia dar nada, um senhor umas mesas ao lado anuiu e mandou vir uma empada, que o rapaz agradeceu.

Algo que não sei identificar com precisão, talvez no olhar dele, na expressão de genuíno agradecimento (e comoção) que fez quando agradeceu, na postura física humilde, na forma como se movia, deixou-me profundamente angustiado. Terminei apressadamente o meu café, fui à procura dele com uma sensação de urgência, de quem tem um nó no estômago, e dei-lhe todas as moedas que tinha no bolso quando o encontrei.

Imagens de miséria que me ficam na minha mente, de pessoas iguais a mim, mas a viver o pesadelo de depender da caridade de terceiros para comer. Tenho a certeza que é completamente arbitrário o que nos separa. Eu tive todas as oportunidades e a sorte do meu lado, e vi por uns segundos sentimentos que me são familiares no olhar dele... podia ser eu na mesma situação.

Miséria... Mesmo ao meu lado...